O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o processo de conflito iniciado no fim de semana passado entre Equador e Venezuela contra a Colômbia "tem que ser freado já". Em entrevista em Buenos Aires, onde fez uma palestra sobre América Latina e globalização durante o lançamento do BBA Itaú no país, Fernando Henrique afirmou é necessário "temer a guerra". O melhor, acrescentou, é evitá-la. O ex-presidente lembrou ainda "que a primeira guerra mundial aconteceu por um acidente", mas considerou que "haverá um esforço rápido de evitar que haja um risco de acidente porque não há nada pior para a América Latina do que uma guerra".
O ex-presidente afirmou que uma das grandes vantagens que da América Latina "é a de sermos uma área de paz, uma zona não nuclearizada". Para ele, assistir uma guerra seria um retrocesso enorme para a região e, neste sentido, defendeu o empenho de todos os governos. "Temos que nos jogar profundamente para evitar a guerra e acho que os governos dos países não envolvidos estão fazendo isso", disse destacando que o processo é muito recente para ser julgado se está sendo conduzido bem ou mal.
No entanto, o ex-presidente mostrou-se de acordo com a posição do Itamaraty de ser neutro no conflito para atuar como mediador. "Acho que o Brasil tem que ter a posição tradicional, como disse o ministro Celso Amorim, de apelar para a paz. Temos que manter essa posição de neutralidade para sermos árbitros da questão. Apelar para a paz e conter um sistema que permita reparações", afirmou. Fernando Henrique não quis comentar as razões que levaram o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a tomar partido pelo Equador e enviar suas tropas, fechando as fronteiras com a Colômbia, agravando o conflito.
"A questão aqui agora é outra: é como manter a paz entre os países. Acho que o governo do Brasil provavelmente vai nessa direção", opinou, considerando a situação de extrema gravidade "porque foram dois fatos graves: um, que a Colômbia entrou no Equador e dois, que o Equador mandou tropas pra lá". Ele recordou que durante o seu governo, houve uma "coisa parecida", quando as forças militares colombianas estavam atrás das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e aterrissaram num aeroporto na selva amazônica sem a autorização do governo brasileiro.
"Nossa reação foi fortíssima", relatou, se solidarizando com o presidente Rafael Correa ao dizer que "então eu entendo a reação do Equador que tem que ser fortíssima mesmo e não pode aceitar". Por outro lado, o ex-presidente criticou o governo equatoriano por não cuidar de sua fronteira e permitir a entrada das Farc. "É preciso criar uma proteção, que nós no Brasil temos de não deixar entrar as Farc no País. No Brasil não entra. Nunca entraram e quando entram são repelidas", concluiu.