Brasília – Esposa de uma das vítimas do vôo 1907 da Gol, a servidora pública Eulália Machado Carvalho deixou o trabalho nesta terça-feira (25) à tarde para acompanhar a apresentação do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo na Câmara dos Deputados.
Como muitos parlamentares da oposição, ela deixou o Congresso Nacional sem entender a razão pela qual o relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), não pediu o indiciamento dos diretores da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
?Em última instância, quem é o responsável por isso tudo [crise do setor aéreo]? Para que criaram a Anac, se na hora não existe nenhuma responsabilidade?, questionou Eulália.
?Nem sequer o sigilo bancário deles [diretores da agência] foi pedido. Como cidadã, como viúva do acidente, eu não estou conseguindo entender. Não teve tempo [para a CPI investigar as causas e os responsáveis do chamado ?apagão aéreo" e dos acidentes com aeronaves da Gol e da TAM]? Então precisa de mais prazo para acabar?.
O marido de Eulália, Luis Antonio Pereira de Carvalho era uma das 154 pessoas a bordo do Boeing 737-800 da Gol que, em 29 de setembro de 2006, se chocou com o jato Legacy pilotado pelos norte-americanos Joe Lepore e Jan Paladino.
Ao explicar que o não indiciamento dos representantes da Anac a deixara bastante preocupada, ela tirou da bolsa uma camiseta criada por parentes das vítimas do acidente para pedir o fim da impunidade.
?Não queremos acusar ninguém, mas também não queremos que isso aconteça com outras pessoas. O que queremos é simplesmente acabar com a impunidade. ?Para nós [a sensação] é muito pior do que [terminar em] pizza. Esta CPI está lidando com vidas?.
A servidora pública também cobrou a saída dos diretores da Anac que ocupavam os cargos à época do acidente. ?Até agora continuo esperando que o ministro Nelson Jobim [da Defesa] tire até a última gota da Anac. Porque para nós, parentes das vítimas, enquanto esta diretoria da Anac não for toda retirada e toda processada, uma parte disso não estará resolvida. A responsabilidade deles também tinha de aparecer?.
Poucas horas após o desabafo de Eulália, o diretor da Anac Josef Barat entregou ao ministro o pedido de renúncia ao cargo. Dos cinco diretores que compõem o colegiado da agência, apenas o presidente, Milton Zuanazzi, permanece no posto que ocupa desde a criação do órgão, em 2005.