Para atingir suas metas de redução de 43% das emissões de gases de efeito estufa até 2030, o Brasil precisa alcançar o desmatamento zero, ter uma agricultura de baixo carbono e considerar que o preço da tonelada de CO2 emitida no setor energético é de US$ 50. Só assim será possível fechar as contas propostas pelo governo.
Esse é o cálculo feito por um grupo de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, liderado por Roberto Schaeffer, professor de planejamento energético, como parte de um estudo internacional divulgado nesta quinta-feira, 22, que analisou as chamadas INDCs (sigla em inglês para o conjunto de compromissos tendo em vista a Conferência do Clima da ONU em Paris) de Brasil, China, Japão, Índia, Estados Unidos e União Europeia.
O estudo analisou quais ações precisam ser tomadas pelos países não só cumprir para as metas apresentadas, mas também para que elas sejam incrementadas com o passar dos anos a fim de que o mundo consiga alcançar a meta de conter o aquecimento do planeta a 2°C.
Schaeffer e equipe levaram em conta as projeções econômicas brasileiras mais recentes, que indicam recessão num primeiro momento, mas retomada do crescimento dentro de alguns anos, para calcular, por exemplo, como a produção agrícola vai se comportar, como será a demanda por energia, transporte, produção de cimento, entre outros dados macroeconômicos.
A partir desses dados eles fizeram uma modelagem para estimar quanto serão as emissões de gases de efeito estufa do Brasil e, assim, propor ações que precisarão ser tomadas para cumprir a meta apresentada pelo governo.
“Considerando tudo isso, imaginamos que, se o Brasil alcançar o desmatamento zero e adotar uma agricultura de baixas emissões, como proposto no Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), sobra para a energia uma boa fatia de ações para fechar a conta das metas. E isso só será alcançado se o País atribuir um valor ao carbono na hora de optar se não vai fazer mais usinas termoelétricas e migrar para a eólica ou solar, ou trocar o diesel por biocombustíveis no transporte”, diz Schaeffer.
Para ele, esse número é de US$ 50 a tonelada de CO2-equivalente, que considera os impactos causados pelos combustíveis fósseis no aquecimento do planeta. “Estamos falando no custo que a economia teria de estar disposta a pagar pelo carbono, seja em uma taxação propriamente dita ou em uma inversão dos subsídios, se não o sistema não vai mudar o seu perfil”, defende.
De acordo com o pesquisador há várias maneiras de abordar essa precificação. De um lado, por exemplo, poderia ser um aumento direto no valor dos combustíveis, com a gasolina e o diesel mais caros na bomba. “É uma penalidade pelo que o carbono que está ali dentro”, diz Schaeffer.
Ou o etanol poderia ser subsidiado para ser mais barato, também levando essa taxa do carbono em consideração. O mesmo valeria para as usinas de energias renováveis, que poderiam ser subsidiadas tendo essa taxa em mente.
“A pergunta que nos foi feita nesse estudo é: o que o Brasil propõe é possível? A INDC brasileira não diz com todos os detalhes como chegar lá. Nos nossos modelos, esse é um caminho possível. Ao valorar o carbono a US$ 50 a tonelada, o setor se redireciona. Sem isso, o desmatamento zero, e o plano ABC cumprido na íntegra, a conta não vai fechar”, diz.
Resultados globais
A análise das INDCs de Brasil, China, Japão, Índia, Estados Unidos e União Europeia reforça que as metas não são suficientes para segurar o aquecimento em no máximo 2°C, como já foi dito por outros trabalhos, mas é um pouco mais otimista ao opinar que elas trazem uma aceleração sem precedentes e uma consolidação de ação contra as alterações climáticas nas principais economias do mundo.
Conduzido por 14 institutos de pesquisa, o trabalho sugere que as metas poderão servir como um ponto de partida para a transformação profunda rumo a uma economia de baixo carbono caso o Acordo de Paris inclua um mecanismo para fortalecer e ampliar esses compromissos políticos.
O estudo “Além dos Números, Entendendo a Transformação Induzida pelas INDCs” defende que o acordo pode construir uma ponte entre o que foi proposto agora e os 2°C se estabelecer um mecanismo previsível que incremente as metas com regularidade, sendo o primeiro reforço já em 2020, aumentando a ambição proposta nas INDCs.
Para os autores, neste cenário, um fortalecimento de políticas e compromissos até 2020 reduziria as emissões em mais de 5 Gt CO2e em 2030 em comparação com o nível atual das INDC, permitindo uma trajetória menos onerosa e mais viável rumo aos 2°C. Segundo os pesquisadores, isso permitiria uma redistribuição mais suave do investimento em tecnologias de baixa emissão de carbono e em novas infraestruturas.
Se isso não for pensado já a partir de 2020 e as INDCs seguirem o rumo proposto agora até 2030, depois disso seria necessária uma mudança muito mais brusca para conseguir manter o aquecimento do planeta a no máximo mais 2°C até o final do século.