Para arcebispo, excomunhão é ‘remédio espiritual’

Depois de criar uma grande polêmica, ao declarar que a mãe da menina de nove anos e a equipe médica – responsáveis pelo aborto da criança, que foi estuprada pelo padrasto e estava grávida de gêmeos – estavam excomungados da Igreja Católica de forma automática, o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, disse nesta sexta-feira (6) que o seu objetivo foi o de despertar a consciência de todos em relação ao pecado do aborto. “A penalidade automática do Direito Canônico é um remédio espiritual para quem está no caminho errado voltar à consciência”, afirmou ele.

“Achei correto ensinar ou reavivar a memória das pessoas para que elas parem com os abortos”, observou, ao reiterar o que chama de “holocausto silencioso”, diante da estimativa de que 50 milhões de abortos são realizados por ano no mundo, um milhão somente no Brasil. Sem nomear a mãe da criança ou os membros da equipe médica que efetivaram o aborto legal, o arcebispo afirmou que quem não sabia desta lei canônica, não está excomungado. Para ele, a partir de agora, no entanto, está ciente.

“Se voltar a fazer estará excomungado automaticamente, sem que ninguém precise dizer, é a Lei de Deus”, disse. Ele lembrou que o excomungado pode receber o perdão pela confissão, arrependimento e o propósito de não mais incorrer no erro. “A lei brasileira permite o aborto em caso de estupro, mas não é lícita, é contra a lei de Deus”, afirmou.

Dom José Cardoso Sobrinho disse estar “muito satisfeito” com as declarações de apoio que tem recebido de religiosos do País e do exterior em relação à sua atitude de alertar para a excomunhão os católicos que praticam o aborto. Sobre a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na tarde de hoje criticou a posição da Igreja Católica, o arcebispo rebateu: “Sugiro ao presidente que antes de se pronunciar sobre tema teológico, consulte um teólogo católico da sua confiança.”

CNBB

Em nota oficial, os bispos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunidos para abertura da campanha da fraternidade, evitaram o tema da excomunhão. Eles se mostraram contra o aborto da criança, considerado precipitado, ao mesmo tempo em que repudiaram o estupro e o abuso sexual sofrido pela criança. “Diante da complexidade do caso, lamentamos que não tenha sido enfrentado com a serenidade e o tempo necessário que a situação exigia”, afirma a nota. “Além disso, não concordamos com o desfecho final de eliminar a vida de seres humanos indefesos”.

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