Ao contrário do que pretendia o arcebispo de Aparecida (SP), cardeal d. Raymundo Damasceno Assis, o papa Francisco celebrará uma missa dentro do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, para 15 mil fiéis, e não no pátio externo, que tem capacidade para 250 mil pessoas. O Vaticano negou, por razões de segurança, pedido levado na semana passada a Roma pelo cardeal e seu bispo auxiliar, d. Darci José Nicioli, que foram acertaram detalhes do programa com os organizadores da viagem do pontífice.
“O papa Francisco quer fazer uma visita a Aparecida para manifestar sua devoção à Padroeira do Brasil, paralelamente à sua participação na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio”, disse d. Damasceno em entrevista coletiva, ontem de manhã, no auditório do subsolo do santuário. Ao lado do prefeito da cidade, Márcio Siqueira, e do prefeito de Guaratinguetá, Francisco Carlos Moreira dos Santos, o arcebispo revelou como andam os preparativos para a chegada do papa.
O cardeal afirmou que não se decepcionou com a decisão do Vaticano, pois entende o sentido da passagem de Francisco por Aparecida. “Depois da missa, o papa aparecerá na Tribuna Bento XVI, na entrada principal do santuário, para abençoar o povo, rezar e eventualmente falar algumas palavras, com o é de seu estilo”, observou d. Damasceno, garantido que,dessa maneira, todos terão a oportunidade de ver o papa de perto. Na chegada e na saída, Francisco percorrerá no papamóvel o pátio do santuário.
Das 15 mil pessoas que serão admitidas no templo, cerca de três mil serão convidados especiais, entre autoridades, bispos, padres, seminaristas, freiras e representantes de outras religiões. “Teremos 1.010 padres, cerca de 40 bispos e quatro cardeais (Eusébio Scheid, arcebispo emérito do Rio de Janeiro; José Freire Falcão, emérito de Brasília, Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo e Francisco Javier Errázuris Ossa, arcebispo emérito de Santiago do Chile), informou d. Damasceno.
O povo – ou as 12 mil pessoas restantes – precisará madrugar para conseguir um lugar no santuário. A entrada será por ordem de chegada. Não será preciso ter convite, mas todos terão de passar pelo controle de metais, “mais ou menos como se faz no controle da Praça de São Pedro, no Vaticano”, como explicou d. Darci. As portas se abrirão às 5h30 do dia 24, cinco horas antes do início da missa.
D. Damasceno, também presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), receberá Francisco no Rio e será seu anfitrião em Aparecida. Depois da missa e da bênção na praça do santuário, o papa irá de papamóvel (um dos dois veículos trazidos de Roma em avião da Força Aérea Brasileira) para o Seminário Bom Jesus, a cerca de um quilômetro de distância, na saída para Guaratinguetá. No fim da tarde, voltará de papamóvel até o santuário, onde embarcará num helicóptero de volta ao Rio.
O programa no Seminário Bom Jesus será discreto: Francisco almoçará com sua comitiva de uns 40 membros, bispos da Província Eclesiástica de Aparecida, padres e seminaristas. Fará um repouso nos aposentos da Pousada Bom Jesus, onde se hospedaram João Paulo II em 1980 e Bento XVI em 2007, e receberá religiosas de três mosteiros de clausura da arquidiocese. Essas freiras vivem fechadas em suas comunidades, dedicadas à oração e à contemplação, mas terão permissão especial no dia 24 para sair e ver o papa.
“Compreendo que o papa quisesse visitar Aparecida como um peregrino devoto de Nossa Senhora, com uma agenda discreta e quase anônimo, mas isso não é possível em seu caso”, comentou d. Damasceno, ao justificar a atenção dada a Francisco, que é chefe da Igreja e chefe de Estado. O papa já conhece Aparecida, pois passou três semanas na cidade em maio de 2007, durante a 5.ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Era então o cardeal Bergoglio arcebispo de Buenos Aires e foi o presidente da comissão de redação do documento final da reunião.
O prefeito Márcio Siqueira informou que o governo do Estado liberou verba de pouco mais de R$ 1 milhão para asfaltamento de ruas e praças de Aparecida por causa da visita do papa. A prefeitura mobilizará 200 funcionários para orientação dos romeiros. A colaboração de Guaratinguetá, segundo o prefeito Francisco Carlos dos Santos, será permitir e providenciar a remoção de uma estátua de Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, de um trevo na entrada da cidade para o Seminário Bom Jesus, onde será benzida pelo papa.
D. Damasceno torce para que tudo corra bem durante a visita do papa, mas admite a possibilidade de haver manifestações, provavelmente não em Aparecida, mas na Via Dutra ou em cidades vizinhas. “Para quem já estiver no Rio, é aconselhável não vir a Aparecida, porque não se sabe como poderá voltar”, disse o arcebispo, ao comentar que o cardeal d. Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero, não virá à cidade porque tem compromissos na Jornada Mundial da Juventude.
O arcebispo e d. Darci esperam mais de 200 mil pessoas no dia 24, mas temem que o afluxo seja menor, “se a imprensa for alarmista, como ocorreu na visita de Bento XVI”, quando se falou muito sobre dificuldades de acesso pela Via Dutra. Cerca de 120 mil assistiram então à missa celebrada pelo papa no pátio do santuário. D. Damasceno voltou a afirmar, com havia declarado em Roma na semana passada, que o papa Francisco não está preocupado com as manifestações e protestos, pois considera que isso é normal numa democracia.