A convenção do PMDB para decidir a aliança com o PSDB e lançar a deputada Rita Camata (ES) como candidata à vice na chapa do senador tucano José Serra (SP) à Presidência foi marcada pela violência, gritaria, agressões verbais e batalhas jurídicas. Conseguiu superar em violência a de 1998, quando as alas governista e oposionista se enfrentaram. Antes do fim do encontro a ala de oposição à aliança admitiu a derrota, mas prometeu manter a batalha na Justiça.
Brasília (AE) – Desta vez, pelo menos 100 jovens com mais ou menos 20 anos, alguns de bermudas e mochilas nas costas, fizeram um arrastão no corredor que dá acesso ao Auditório Nereu Ramos, do Senado, onde acontecia a convenção. Tomaram as credenciais destinadas aos delegados e invadiram o plenário do auditório. Houve choque com seguranças e duas pessoas foram feridas. Uma foi André Ramos, estudante de 20 anos, de São Paulo. Ele teve um grande corte na cabeça. Outro, vestido com uma camisa da seleção brasileira, teve fraturas nas costelas. Cerca de 20 minutos depois da entrada dos jovens, a briga chegou à Mesa.
Envolveu também o deputado Freire Júnior (TO). Ele deu um soco em Márcia Campos, delegada de São Paulo, que o provocava porque havia posto o filho para falar. Márcia lhe disse que ele havia transformado o filho em bucha de canhão. Ao sair às pressas do plenário, o líder do PMDB, Geddel Vieira Lima (BA), disse que a invasão fora comandada pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR), que apresentou seu nome à convenção para a disputa presidencial.
No final ocorreu a vitória da ala governista, que defendia a coligação com o PSDB. De acordo com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), Rita Camata e a aliança teriam cerca de 70% dos votos, cerca de 500 dos 694. Os oposicionistas admitiam a derrota, mas não se entregavam. E apesar de derrotados ontem, anunciaram que vão recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) com um mandado de segurança para cassar a decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Nelson Jobim, que na madrugada do sábado revogou liminar concedida por outro ministro do TSE, Sálvio de Figueiredo, que suspendia a convenção. Figueiredo entendeu que a convenção teria de votar também o requerimento do senador Roberto Requião (PR) para disputar a Presidência da República.
Acusa e defende
O senador Roberto Requião (PR), candidato a presidente da República da ala rebelde do PMDB, e a deputada Rita Camata (ES), candidata a vice do senador tucano José Serra numa coligação com o PSDB, travaram um verdadeiro duelo de discursos na convenção do partido. Requião foi agressivo, apelou ao brio peemedebista e tentou humilhar os que defendem a aliança com o governo; Rita lembrou seus projetos, disse que não se arrependia dos votos contrários ao governo em propostas como as das reformas da Previdência e administrativa e elogiou o senador Serra.
Virando-se para o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer, e para Rita Camata, Requião atacou, referido-se ao governo FHC, que teria acabado com o Brasil: “Temer, Rita, alguém aqui neste auditório, em sã consciência, de coração aberto, com orgulho e fervor, pode levantar e proclamar com o peito estufado de emoção, eu ajudei a fazer tudo isso? Não. Nenhum peemedebista vai reivindicar co-autoria na obra de destruição tucana”
Se Requião pôde fazer seu discurso em paz; Rita não. Foi vaiada o tempo todo por cerca de 10 delegados ligados ao ex-governador Orestes Quércia e do MR-8, que ficaram bem embaixo do microfone. A cada palavra de Rita, ouviam-se gritos de “Serra é ladrão”, “Vendida” e outros. A deputada enfrentou os gritos e disse que os que a xingavam tinham direito e protestar, porque o PMDB é um partido democrático. Rita afirmou ainda que a derrota da inflação será lembrada nos livros de História como uma das grandes vitórias do Brasil no final do século 20.