Durante a primeira reunião ministerial do governo Lula, marcada para amanhã, em Brasília, o futuro ministro da Fazenda Antônio Palocci Filho vai passar a mensagem de que acabou o oba-oba. Ele vai mostrar que a conjuntura atual do País impõe severas restrições orçamentárias e, provavelmente, o adiamento de projetos mais ambiciosos. Palocci terá a participação mais importante do encontro, na condição de coordenador da equipe de transição. Os futuros ministros receberão os documentos com as conclusões dos técnicos da transição, com os problemas e limitações das respectivas áreas. Os ministros se reunirão em separado com os técnicos que estudaram a situação de sua pasta.
São Paulo
– O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva passou o Natal em sua residência em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, com familiares e amigos. A assessoria de Lula informou que o presidente eleito não teve compromissos públicos ontem. Ele só retomará as suas atividades amanhã, quando comandará a primeira reunião ministerial de seu governo, em Brasília. Com uma equipe variada, que reúne petistas do núcleo dominante, neolulistas, ortodoxia na equipe econômica, empresários e nomes mais à esquerda, Lula também usará o encontro ministerial para fazer uma confraternização. Muitos dos futuros ministros se conhecerão pessoalmente na reunião. Com as metáforas futebolísticas de sempre, Lula deverá dizer, por exemplo, que Luiz Furlan (Desenvolvimento) e Roberto Rodrigues (Agricultura), dois empresários que votaram no tucano José Serra, formarão “a dupla de ataque das exportações”.Para os ministros da área social, Lula e Palocci darão uma orientação: em tempos de dificuldades, eles devem procurar os organismos internacionais para pedir financiamento a seus projetos. O futuro presidente dirá que as administrações do PT, especialmente as prefeituras, têm boa imagem nesses organismos, em razão de prêmios internacionais obtidos. O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), presidido por Enrique Iglesias, deverá ser um dos principais financiadores de novos projetos petistas.
Associação
Na permanente associação que faz entre seu ministério e um time de futebol, Lula quer consolidar na reunião um ambiente análogo ao da “família Scolari”, vitoriosa na Copa do Mundo de 2002. A tática segue uma lógica que foi sendo desenhada pelo presidente eleito nos anúncios à conta-gotas de seus ministros. A “família Lula” deve estar acima de projetos e vaidades pessoais, e todos terão de arcar com os custos dos sacrifícios necessários.
O presidente eleito já ensaiou seu papel de “técnico” em uma espécie de preleção para os 21 futuros ministros presentes ao anúncio final da equipe. Na ante-sala de um auditório, antes de abrir a cerimônia à imprensa, disse a todos: “Vocês são uma ótima equipe. Confio em vocês. Vamos trabalhar em grupo, com afinação”. Depois, fez brincadeiras com quase todos os anunciados, num estilo de liderança que guarda semelhanças com o do treinador da seleção pentacampeã.
Lula adota uma abordagem pessoal e emocional com seus auxiliares, mas também tem momentos de mau humor, pouco conhecidos publicamente. Usa muito expressões como “meu querido” e “vamos tratar isso com carinho”, além de tratar sua equipe com gestos afetuosos. A partir disso, vem parte de sua fama de chorão.
Situação levantada é complicada
São Paulo
– O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, disse na terça-feira que os números apresentados pela administração federal, durante a transição, não correspondem com a realidade.Amanhã, Lula realiza a primeira reunião com a equipe ministerial, em que Antônio Palocci Filho, futuro ministro da Fazenda, apresentará um relatório com dados levantados pela equipe de transição. “Os números da comissão de transição não são satisfatórios, do ponto de vista da situação econômica do nosso País. Vai ser um documento político, porque estamos vendo o governo no final de mandato tentando vender a imagem de um Brasil que o povo não percebeu durante o processo eleitoral”, atacou Lula.
Durante a reunião, o presidente eleito dirá aos futuros ministros para que “ninguém fique chorando”. “Nossa obrigação não é ficar dizendo o que o outro não fez, mas começar a fazer o que a gente tem de fazer. A situação é difícil”, ressaltou Lula.
Natal melhor
Lula prometeu ainda aos brasileiros mais carentes que trabalhará duro no próximo ano para que possam ter um Natal melhor em 2003. Lula disse que considera “o Natal uma data muito especial, mas ao mesmo tempo triste, por causa dos milhões de brasileiros que não têm o que comer”.