Foto: Bruno Spada/Agência Brasil

 Antônio Palocci: novas denúncias podem tirá-lo da Fazenda.

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Preocupado com o seu desgaste político e os reflexos da crise sobre o mercado financeiro, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, antecipou para hoje os esclarecimentos que prestará à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

O depoimento de Palocci estava marcado para o próximo dia 22, mas a estratégia governista de apressar a sua fala tem o objetivo de conter a fúria da oposição e abortar uma eventual convocação do ministro para depor na CPI dos Bingos. Líderes do governo negociaram hoje com integrantes do PSDB e do PFL a ida do ministro ao plenário do Senado para explicar as denúncias feitas por seus ex-auxiliares na prefeitura de Ribeirão Preto.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer manter Palocci no cargo e pôr um ponto final nas especulações sobre sua saída. Resolveu partir para o tudo ou nada e, na prática, hoje será o Dia D de Palocci. Em conversas reservadas, Lula já disse que enfraquecer o ministro é um "suicídio" e que não permitirá "brincadeira" com a economia. Nesta semana, o presidente pretende aproveitar discursos públicos para defender o ministro e reagir "duramente" aos ataques.

Palocci retornou a Brasília segunda-feira à noite, depois de três dias de descanso. Conversou ontem com Lula, com deputados petistas e vários colaboradores, entre eles Murilo Portugal, secretário-executivo da Fazenda. Decidiu que seria melhor antecipar os esclarecimentos, mesmo porque seu silêncio diante das denúncias tem dado margem a especulações e prejudicado a economia. Na segunda-feira, a Bolsa caiu, o dólar subiu e o risco país avançou.

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Contrariado com a avalanche de denúncias e o fogo amigo no Planalto, Palocci disse ao presidente que ficará na Fazenda se a situação se acalmar e suas explicações forem consideradas suficientes. Se tiver de depor diante de uma CPI, acha que ficará desmoralizado e, nesse caso, será melhor sair.

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP) negociou ontem com os presidentes da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da CAE, Luiz Otávio (PMDB-PA), a antecipação do depoimento de Palocci para 15h de hoje. Telefonou também para os líderes do PSDB, Arthur Virgílio (AM), e do PFL, José Agripino (RN), além de ligar para o senador tucano Tasso Jereissati (CE).

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"Eu disse que o ministro está fazendo um grande trabalho para o País, não tem nada a temer e responderá a todas as perguntas", afirmou Mercadante, que nega ter sido sondado para o lugar de Palocci. "A crise política não pode contaminar a economia." Depois, Murilo Portugal e o próprio Palocci se dividiram nos telefonemas aos senadores.

"Acho que Palocci foi inteligente", disse o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). "Ele pode se sair bem e abafar a crise. Se não se antecipasse aos fatos, teria de se submeter às guerras normais das CPIs, onde dificilmente o depoente se sai bem." Para o relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), a tática do governo não deixa dúvidas: "É uma tentativa de proporcionar ao ministro a oportunidade de se consolidar no cargo."

Garibaldi disse que a ida de Palocci ao Senado obrigará a CPI a transferir para outro dia os depoimentos marcados para hoje: do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, convocado para explicar por que tirou do bolso R$ 29 mil para quitar dívida de Lula com o PT, e o de Afrânio Nabuco, acusado de fazer lobby para os dirigentes da Gtech.

No plenário, Palocci fará uma apresentação sobre economia, mas todos os senadores terão direito a fazer perguntas. "Isso aí é uma jogada", comentou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), autor do requerimento de convocação de Palocci para depor hoje na comissão da Câmara que analisa o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). "No Senado ele se sente mais seguro para falar do que na Câmara, porque até a oposição defende a sua política econômica", concluiu.