Durante audiência na comissão especial da Câmara que analisa a criação do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, defendeu ontem com toda ênfase a política econômica.
O ministro recorreu aos números da última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para mostrar que o esforço de ajuste fiscal tem produzido bons resultados. Ao longo da audiência, rejeitou ainda a hipótese de aumento da carga tributária para financiar o Fundeb.
Foi o terceiro depoimento de Palocci no Congresso em 14 dias, o que já lhe consumiu 25 horas – o primeiro foi de 9 horas na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, outro de 10 horas na Comissão de Finanças da Câmara e outro de 6, ontem, na comissão especial.
Como das outras vezes, os líderes do PT e dos partidos aliados do governo participaram de toda a reunião, sempre atentos para a construção de um cordão em defesa do ministro da Fazenda. Até a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), embora não pudesse nem pedir a palavra.
Mas os ataques foram poucos. Foram apenas duas as tentativas de fazê-lo falar das denúncias de corrupção em Ribeirão Preto. O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), levantou dúvidas sobre um contrato com o urbanista Luiz Pinho, que chegou a ser envolvido com a turma do mensalão, mas o ministro negou a existência e Maia não tocou mais no assunto.
A maior agressividade veio da nova oposição, quando o ex-petista Ivan Valente (SP), hoje no P-SOL, disse que o ministro deveria renunciar ao cargo por "pagar o hipermensalão do sistema financeiro, na forma dos juros da dívida". Valente disse que a política econômica causava mais vítimas que a corrupção.
Ouviu de Palocci defesa veemente da política econômica, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), recém-divulgados, que mostram redução da desigualdade social no País.
"Os números não lhe dão razão", disse o ministro a Valente. Em seguida, Palocci recorreu ao Pnad. "Não sou eu quem digo. São os números apurados pelo Pnad. A renda média do trabalho parou de cair depois de sete anos. A desigualdade diminuiu. A renda dos 10% mais ricos caiu de 47,3% para 44,7%; a dos 50% mais pobres aumentou de 12,4% para 14,1%. A redução da pobreza vem se consolidando desde 1995 e intensificou-se a partir de 2003."
O único temor que Palocci demonstrou em relação ao Fundeb foi o de que os parlamentares descartassem do projeto o artigo que cortava despesas noutras áreas para financiar o Fundeb. A cláusula existia na proposta do governo e caiu na Comissão de Constituição e Justiça. "O importante é priorizarmos o Fundeb e não criar novos tributos para financiá-lo. O País clama para que não aumente a carga tributária", disse.