Palocci rompe silêncio e contínua ministro

Depois de 11 dias de reclusão voluntária, em casa ou no Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, rompeu o silêncio, ontem, e em tom quase magoado procurou defender-se das críticas que lhe são feitas por envolvimentos suspeitos com seus velhos amigos da "República de Ribeirão".

"Todos nós temos de pagar pelos erros que cometemos", disse ele a uma silenciosa platéia de quase 500 empresários na Câmara Americana de Comércio, em São Paulo. "Mas não se pode transformar o debate político numa crise sem fim, numa crítica desenfreada de todas as coisas, numa agressão a vidas pessoais", continuou. E, falando devagar, avisou: "Quando chega nisso eu me afasto, fico um tempo distante."

Em tom amargo, Palocci comparou sua vida atual às agruras do Inferno de Dante. "Como é possível" perguntou-se, "ter uma economia que começa a voar em céu de brigadeiro e um ministro que está mais para o lado do inferno, ali no terceiro ou quarto círculo do Inferno de Dante?" Foi uma referência à primeira parte da Divina Comédia, do poeta italiano Dante Alighieri, onde o inferno é dividido em nove círculos, cada um pior que o outro.

Em nenhum momento o ministro citou qualquer das acusações feitas contra ele, e muito menos o nome de seu maior algoz do momento – o caseiro Francenildo Santos Costa, que o atirou no inferno astral ao afirmar que ele participava dos encontros na mansão do Lago Sul, em Brasília.

Empenhou-se apenas – depois de um vôo de 15 minutos pelos bons índices da macroeconomia – em vender a idéia de que seu trabalho como ministro é coisa séria e não pode ser confundido com assuntos de sua vida particular. "Não posso, como ministro, debater todo tipo de acusações baixas e ofensas que são apresentadas no jogo politiqueiro. Aí sim, eu comprometeria a condução da economia", avisou Palocci.

"Abusos"

O ministro queixou-se, também, do que considera abusos, "não da imprensa, em geral, mas de algumas pessoas". "Acho que dentro do jogo político há pessoas que não têm limites. Pessoas que não vêem limite entre investigar o que é justo e perseguir. Não vêem limite entre o que é crítica e o respeito às pessoas."

No início de sua fala ele procurou descontrair. "Eu trouxe um discurso escrito, longo e chato, com gráficos chatésimos", afirmou, provocando risos gerais. Não ia aproveitá-lo. Ia falar "mais com o coração", mesmo sabendo que "há agências de risco presentes". Ainda assim, embora de improviso, ele falou de economia.

Confessou que "a carga tributária está num patamar limite" e em alguns setores "há um nível de constrangimento". Reagiu às críticas sobre os grandes lucros dos bancos: "É bom que os bancos vão bem. Prefiro um sistema com bancos enxutos do que tendo de prestar socorro."

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