Brasília – O ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, afirmou ontem que o governo não conta com a hipótese de um salário mínimo de R$ 275. Segundo ele, é preciso aguardar a votação novamente na Câmara dos Deputados. “Estou bastante otimista”, afirmou Palocci ao deixar o Palácio do Planalto.
O ministro não acredita que a votação de anteontem no Senado, quando a oposição conseguiu derrubar a proposta de um mínimo de R$ 260, represente fragilidade política do governo. Palocci disse que é preciso que o governo agora analise e avalie a situação com serenidade, sem pressa. Na avaliação dele, esse episódio não dificulta a estabilidade política do governo no Congresso.
Líderes da base aliada ao governo na Câmara dos Deputados afirmam que aumentou a dificuldade para aprovar o salário mínimo de R$ 260 na Casa, para onde volta a medida provisória. A principal condição dos deputados para apoiar o governo era que esse valor não mudaria no Senado. “Se o Senado é bonzinho e não quer cumprir os compromissos da política econômica, a Câmara não vai ficar de vilã”, disse o líder do PPS, Júlio Delgado (MG).
O deputado Sandro Mabel (GO), líder do PL, reforçou: “A garantia que demos para que a bancada votasse os R$ 260 foi a de que o Senado não alteraria”, afirmou. “Na reunião que tive com o Lula, ele foi enfático em dizer que ia se empenhar pessoalmente pelos R$ 260 porque é isso que o País suporta”, acrescentou o líder do PP, deputado Pedro Henry (MT). O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), vai trabalhar pelos R$ 260 para se fortalecer com o Planalto. A medida provisória chega trancando a pauta. Na Câmara, os R$ 275 foram derrotados por 266 a 167.
“Confio nos deputados”, afirmou o líder do governo, deputado Professor Luizinho (PT-SP). A esperança de vitória do governo na Câmara é que lá, as coisas são diferentes do Senado. Desde o início do governo, Lula sabe que sua maioria no Senado é frágil. Se todos os partidos da base aliada votarem sempre ao lado do governo na Casa, Lula teria um total de apenas 46 dos 81 votos possíveis. Esse apoio irrestrito raramente se reproduz nas votações.
Na prática, o Senado tem também uma peculiaridade. Sempre teve senadores “donos de bancadas”. São ex-governadores, líderes regionais, que dominam a política em seus estados e comandam bancadas eleitas para o Senado. No primeiro ano do governo Lula, os votos dos partidos de oposição (PSDB e PFL) foram decisivos para Lula aprovar propostas importantes, como as reformas estruturais.
João Paulo: os R$ 260 vão voltar
Brasília – A Câmara dos Deputados deve votar o substitutivo que prevê um salário mínimo de R$ 275 na próxima terça-feira. A decisão foi tomada ontem pelo presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), após reunião com o ministro Aldo Rebelo. Ele já começou a enviar telegramas a todos os 513 deputados para informá-los sobre a votação e convocá-los para estarem presentes.
A votação deverá ocorrer cinco dias após a derrota sofrida pelo governo no Senado, que derrubou a medida provisória que fixava o mínimo em R$ 260 e aprovou um substitutivo do PFL, com R$ 15 a mais de aumento. “Vou mandar telegramas a todos os deputados pedindo que eles estejam aqui na terça para votar a medida provisória”, disse o petista em entrevista após o encontro com Rebelo.
Questionado sobre a possibilidade de a Câmara manter ou não o valor de R$ 275, o petista afirmou que a tendência é que os deputados retomem o mínimo de R$ 260. “Quando a Câmara aprovou os R$ 260 fez uma opção consciente, então eu acho que a tendência é de que sejam confirmados os R$ 260”, declarou João Paulo. Rebelo também demonstrou confiança de que a Câmara retomará o valor defendido pelo governo.
Questionado sobre a possibilidade de vários deputados do Nordeste não atenderem à convocação de João Paulo, pelo fato de estarem participando das festas juninas na região, o ministro lembrou que os santos católicos comemorados em Junho também “protegem” o governo e o presidente da Câmara.
“Temos santos fortes entre nossos protetores, Santo Antônio, São Pedro e São João, que até batiza o presidente da Câmara dos Deputados, o que é uma grande coincidência. E temos a segurança e tranqüilidade dos líderes da base do governo. Queremos o apoio de todos os santos, porque não podemos discriminar os santos”, disse Rebelo.