Num depoimento de seis horas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, negou ontem o envolvimento em denúncias ocorridas no governo federal, na campanha do PT em 2002, e nem na prefeitura de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo mas, ainda assim, evitou atacar ex-assessores que o acusaram de participar de várias irregularidades, como os advogados Rogério Tadeu Buratti e Vladimir Poleto.
Palocci foi taxativo ao dizer que o partido não usou caixa dois na eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao negar a doação de US$ 3 milhões que teria sido feita por Cuba e ao rebater, entre outras, a acusação de que teria intermediado o acordo com os donos de bingos para legalizar a atividade no País, em troca de R$ 1 milhão para a legenda.
Ele só reagiu contra os denunciantes, quando questionado sobre dois funcionários públicos municipais de Ribeirão Preto que, perante o Ministério Público (MP), acusaram a gestão dele de alterar as planilhas de limpeza pública para superfaturar os valores pagos à empresa Leão Leão. "Posso suspeitar que eles fizeram a alteração por conta deles", alegou. Já com relação à supervisora que autorizava os pagamentos, Izabel Bordini, mulher do diretor do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) Donizette Rosa, que, na época, era presidente da sigla na cidade, o ministro da Fazenda foi enfático ao afirmar que "confiava na sua integridade". No testemunho ao MP, os dois funcionários afirmam que Izabel dizia que havia "ordens superiores" para superfaturar o pagamento da empresa de limpeza
"Como ministro, não tenho dúvidas de que o ministro faz a sua parte, mas a influência de seus ex e atuais assessores deixa a desejar em relação a alguns órgãos subordinados ao Ministério da Fazenda", disse o presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), referindo-se aos termos usados por Palocci para "aliviar" investigados pela comissão. Para o senador Jefferson Peres (PDT-AM), o ministro está numa situação "muito delicada" por ser alvo de diversas acusações. "Porque, quando se ocupa um cargo importante, é preciso repetir o velho ditado da mulher de César e não apenas ser honesto, mas também parecer honesto", alegou. "O sr. parece-me cercado por figuras que parecem personagens de um teatro de sombra?.
O líder da minoria no Senado, José Jorge (PFL-PE), questionou-o sobre a nomeação para o ministério de "pessoas desqualificadas, cujos depoimentos à comissão mostraram que não tinham condições, nem técnica, nem ética para exercerem a função". Jorge citou entre eles o ex-presidente da Casa da Moeda Manoel Severino, que recebeu dinheiro do chamado "valerioduto". Palocci disse que não faria "juízo de valor" a respeito de nenhum dos atuais ou ex-auxiliares
Em nenhum momento, ele chamou os acusadores de "mentirosos", mesmo quando questionados nestes termos pelos senadores. Sobre o fato de ter viajado no avião do empresário José Roberto Colnaghi, Palocci disse que o vôo foi fretado pelo PT porque ele se deslocava para alguma atividade partidária. Ele nada disse quando o senador Antero Paz de Barros (PSDB-MT) declarou ter pesquisado e concluído que existe o pagamento desse frete nas contas do PT. "O ministro foi hábil. Não foi convincente em alguns pontos, principalmente, ao recusar-se a atacar os que afrontam a sua honra", afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
O senador Demóstenes Torres (PFL-GO) rebateu a alegação do ministro que vai esperar pelo fim das ações, ao dizer que até lá os processos estarão prescritos. Torres também mostrou que o assessor do ministro Ademirson Ariosvaldo da Silva mentiu, quando disse ter recontado para menos os telefonemas que recebeu no período de renovação da Gtech. "Temos um programa que confirmou tudo, foram 1.411 ligações para o Poleto e 811 para o Ralf Barquete (ex-assessor da Caixa Econômica Federal)", defendeu.
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) mostrou-se desolado pelo depoimento do ministro porque, alegou, "fica difícil assim, temos informações oficiais, gravações autorizadas e que somente são contestadas, sem nada que comprovem seus argumentos"