O maior navio de pesquisa da história da oceanografia brasileira chegou ao País trazendo a reboque um misto de esperança e preocupação para a comunidade científica nacional. Medindo 78 metros e equipado com o que há de mais moderno em instrumentação de pesquisa oceanográfica – incluindo um robô submarino com capacidade para mergulhar até 4 mil metros de profundidade -, o Vital de Oliveira chegou a Arraial do Cabo (RJ) no dia 14 e deve ser oficialmente apresentado em uma solenidade hoje, no cais da Marinha, em Niterói.

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A embarcação de R$ 162 milhões foi comprada por meio de uma parceria público-privada entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Ministério da Defesa, a Petrobrás e a Vale. As empresas são os sócios-majoritários, tendo arcado com dois terços do valor (43% e 23%, respectivamente). O outro terço foi dividido entre os ministérios.

Cientistas brasileiros estão entusiasmados com a chegada do navio, que promete expandir significativamente os horizontes da oceanografia nacional. Com 8,5 mil quilômetros de costa, o Brasil é o país melhor posicionado geograficamente e cientificamente para explorar o Atlântico Sul, que é um dos oceanos menos estudados da Terra. Sem navios de grande porte à disposição, porém, as pesquisas brasileiras têm sido limitadas às proximidades da costa. Para ir além das águas territoriais, só “pegando carona” em embarcações estrangeiras.

“Fazemos muita oceanografia costeira, mas pouca oceanografia de grande escala, de importância global”, diz o pesquisador Carlos Garcia, do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Para ele, passou da hora de o Brasil “ocupar cientificamente” seu lugar no oceano.

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Com capacidade para transportar 40 pesquisadores e um raio de ação de 13 mil km, o Vital de Oliveira promete dar ao Brasil essa tão sonhada autonomia logística e tecnológica de exploração oceânica. “Finalmente vamos fazer ciência de gente grande no mar”, disse ao Estado o coordenador para Mar e Antártica do MCTI, Andrei Polejack.

Receios

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A reboque desse entusiasmo, porém, vem uma preocupação com relação à quantidade de tempo que os cientistas terão, de fato, para usar a embarcação. Considerando que a maior parte da conta foi paga pelas empresas, muitos temem que a agenda do navio seja comandada pela prospecção de riquezas minerais e outras pesquisas de interesse privado da indústria.

“A comunidade científica está muito feliz com esse navio. É uma plataforma de pesquisa fantástica”, diz o pesquisador Michel Mahiques, do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (IO-USP). “Só temo que, no final, nosso acesso ao navio acabe sendo bastante limitado.”

Polejack diz que não deverá haver conflitos entre indústria e academia. “Os dados que precisamos no Atlântico Sul são tão básicos que atendem aos interesses de todos”, diz.

Outra preocupação diz respeito aos custos de manutenção e operação da embarcação, para os quais não há recursos públicos reservados. “Esperamos que o navio tenha dinheiro para continuar navegando”, diz o oceanógrafo Ronald Buss de Souza, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Metodologia

A metodologia que será usada para distribuir o tempo de uso do navio pela comunidade científica ainda não foi definida. O mais provável, segundo o Estado apurou, é que sejam abertos editais para submissão de projetos, que serão selecionados por uma comissão. A meta é que o navio opere no mar 180 dias por ano.

O Vital de Oliveira será operado pela Marinha e sua gestão ficará a cargo de um comitê com representantes dos quatro parceiros (Petrobrás, Vale, MCTI e MD). Sua missão científica deverá ser orientada por um novo Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas e Hidroviárias, que está em processo de criação e tem como meta obter contratos de gestão da embarcação.

A ideia é fazer cruzeiros de pesquisa que atendam aos interesses de todos os parceiros simultaneamente, mas não estão descartadas saídas de interesse exclusivo da indústria.

A ênfase, segundo um comunicado da Marinha, será em pesquisas relacionadas a “recursos minerais, óleo e gás”. / H.E.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.