No sétimo dia da morte de Vitor Pinto, o menino da tribo Caingangue, de 2 anos, degolado em Imbituba, cidade do litoral sul de Santa Catarina, houve missa em português, canto em guarani e protesto na delegacia. Mais de cem pessoas se reuniram no cenário do crime, a rodoviária da cidade, ao meio-dia. Esse foi o horário em que Vitor teve o pescoço cortado por um jovem na quarta-feira, 30, da semana passada.

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O suspeito, Matheus de Ávila Silveira, de 23 anos, foi preso dois dias depois e encaminhado para o presídio de Tubarão após confessar o crime. Ele degolou o menino ao atacá-lo no colo da mãe. Segundo o delegado Rafael Giordani, Silveira tem as características de um psicopata, pois não demonstrou sentir culpa.

O delegado disse não acreditar que o crime tenha sido motivado por racismo, mas causado por problemas psicológicos de Silveira, que é alcoólatra, usuário de drogas e estaria envolvido com uma seita satânica da cidade.

Seus pertences – uma mochila, um par de luvas e os tênis – foram reconhecidos pelos pais de Vitor. Sua imagem também foi gravada pelas câmeras de segurança da rodoviária e do prédio do Ministério do Trabalho, que fica na frente do local do assassinato. De acordo com o delegado, Silveira ficará detido provisoriamente até o encerramento das investigações.

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Os pais de Vitor, Sônia da Silva, de 27 anos, e Arcelino Pinto, de 42, participaram do protesto na delegacia e exigiram justiça. “Se um indígena cortasse a garganta de uma criança branca o Brasil viria abaixo. Quero a mesma indignação pela morte do meu filho”, disse Sônia. A índia alimentava Vitor na sombra de uma árvore quando o assassino se aproximou e atacou.

Ela, o marido e os três filhos haviam desembarcado no dia 26 de dezembro em Imbituba para vender artesanato, uma tradição Caingangue. Vieram da aldeia Condá, em Chapecó, no oeste catarinense. Da aldeia veio também a vice-cacique Márcia Rodrigues para conversar com o delegado na quarta. “Esse menino não é louco. Se fosse, teria escolhido o primeiro que viu na frente para matar. Ele escolheu Vitor, um bebê no colo de uma indígena. Escolheu porque eram vulneráveis, assim são os índios do Brasil. As pessoas são preconceituosas e nos tratam piores que animais, mas viemos exigir os nossos direitos”, disse a líder.

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Insegurança

Para o coordenador substituto da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Chapecó, Clóvis Silva, não é possível desconectar a morte da insegurança vivida pelos indígenas no Estado. “Os Caingangues sobrevivem basicamente da venda dos cestos que fabricaram no inverno. Mas as pessoas os veem como incômodos. São expulsos de locais públicos, como estradas e rodoviárias. Desprotegidos, viram alvo fácil.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.