Brasília – A pesquisa divulgada ontem pela organização não governamental Transparência Internacional, segundo a qual a percepção de empresários e analistas sobre a corrupção no Brasil não mudou em 2004, não surpreende o ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Waldir Pires. Segundo ele, o governo tem plena consciência de que sua luta contra a corrupção não produz, de imediato, alteração na opinião internacional a respeito do País.
O ministro lembra que, em 1999, depois de sete anos da “Operação Mãos Limpas”, a nota da Itália subira apenas 1,71 ponto no ranking da corrupção. O ministro diz que é indiscutível o aumento das ações de combate à corrupção no Brasil e destaca que isso poderia, num primeiro momento, aumentar a percepção sobre a existência da corrupção, já que as pesquisas da Transparência medem apenas a percepção sobre a corrupção, e não ela propriamente.
Segundo Waldir Pires, esse aparente paradoxo – quando se intensifica o combate à corrupção cresce a percepção sobre ela – é explicado em diversos estudos internacionais sobre o assunto. Waldir Pires diz ainda que é preciso observar que o público pesquisado é composto de empresários ligados ao comércio internacional, grandes escritórios de advocacia nacionais e internacionais, banqueiros e agências internacionais.
Segundo ele, esse público não acompanha o dia-a-dia das ações do governo de cada país e, portanto, não é capaz de detectar, de forma imediata, onde está ocorrendo um trabalho sério de combate à corrupção. “Tenho certeza, por exemplo, que os brasileiros que acompanham, aqui dentro, o que vem sendo feito a partir do ano passado, principalmente pela Controladoria Geral da União e pela Polícia Federal, têm outra idéia sobre a luta contra a corrupção em nosso País, por parte do governo federal”, afirma.
Waldir Pires lembra ainda que o índice revelado na pesquisa, conforme dito pela própria representação da Transparência Internacional no Brasil, não se refere à esfera federal isoladamente, e sim ao poder público nas suas três esferas federativas (União, estados e municípios) e nos três poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário). “A esse respeito, aliás, cabe dizer que um dos pontos críticos que vêm sendo apontados em pesquisas do gênero, em nosso País, como áreas onde a corrupção é maior, está exatamente na cobrança e fiscalização do ICMS, que é um imposto estadual”, afirma.
O Índice de Percepção de Corrupção 2004, que inclui 146 países, coloca o Brasil na 59.ª posição, com 3,9 pontos numa escala que vai de 1 a 10 pontos. Quanto mais baixa a pontuação, maior a corrupção no país. O desempenho brasileiro ficou acima da média da América Latina, de 3,5 pontos. Os países com a melhor avaliação são o Chile (20.º), com 7,4, o Uruguai (28.º), com 6,2, E 20.º a Costa Rica (41.º).