Padre Júlio faz primeiro protesto após denúncias

Uma bandeira branca, uma cruz feita com galhos de árvore, uma bacia de água, flores, tambores e chocalhos eram alguns dos objetos que estavam no altar da Igreja de Santa Cecília para a celebração da missa de sétimo dia do morador de rua Ivanildo Raimundo, queimado na semana passada em frente da Praça Marechal Deodoro, centro de São Paulo.

Na tarde de terça, quase dois meses depois de ganhar destaque o caso em que foi vítima de extorsão, um ainda abatido padre Júlio Lancellotti comandou a cerimônia, assistida por cerca de 60 pessoas. "Essa morte não pode cair no esquecimento. Ela é tratada pela cidade com descaso, indiferença, omissão e não mobiliza a opinião pública", disse. Ivanildo veio de Brasília. Era caminhoneiro, mas se entregou ao álcool e foi morar na rua. Na noite do assassinato, bebeu pinga com um morador de rua. Os dois brigaram e horas depois, o outro voltou para colocar fogo em seu corpo. Foi preso três dias depois.

Dando sinais de que tenta retomar a vida pública, o padre criticou os programas da Prefeitura voltados aos moradores de rua. Reclamou da campanha que pede ao cidadão que não dê esmola no Natal, criticou a idéia da atual gestão de estabelecer um contrato para aumentar o controle nos albergues e alfinetou a Lei Cidade Limpa.

Depois da celebração, todos caminharam em direção à Rua São Vicente de Paula, onde Ivanildo foi queimado. Ao ser abordado pela reportagem, padre Júlio manteve-se na defensiva. Disse que apenas os advogados falariam sobre o inquérito. E perguntou se o jornalista também havia feito plantão na porta da casa dele. "Foi horrível. Tiravam fotos de minha conta de água, subiram nos muros. Isso ainda será tema de discussão sobre a ética da imprensa." Ao chegar ao local, o grupo acendeu uma vela e colocou uma cruz em memória de Ivanildo.

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