Padre Francisco Victor pode ser próximo beato brasileiro

Um dos próximos beatos brasileiros deverá ser o padre Francisco de Paula Victor, negro e descendente de escravos como Nhá Chica, beatificada na tarde deste sábado em Baependi, onde viveu mais de 70 anos. Mineiro de Três Pontas, padre Victor nasceu em 1827 e morreu em 1905. Seu processo de beatificação começou junto com o de Nhá Chica, em 1992. O Vaticano já reconheceu suas virtudes heroicas, o que lhe valeu o título de venerável.

“Falta agora a aprovação de um milagre”, disse o postulador da causa, o advogado italiano Paolo Vilotta, que chegou de manhã a Caxambu, cidade a seis quilômetros de Baependi, em companhia do cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, que veio de Roma para presidir a cerimônia de beatificação.

O bispo d. Diamantino Prata de Carvalho, da Diocese de Campanha, a qual pertencem as cidades de Baependi e de Três Pontas, está entusiasmado com a possibilidade de poder contar em breve com dois santos na região. “É muito bom para o Sul de Minas e para todo o Brasil”, comentou em Caxambu, após ter desembarcado com o cardeal Amato em Caxambu.

Sobre as expectativas de políticos e comerciantes que preveem um crescimento do turismo nas cidades do Circuito das Águas, que inclui também São Lourenço, Campanha, Cambuquira e Lambari, d. Diamantino admite que a situação vai melhorar. “Aliás, o progresso já começou, basta ver como as estradas foram recuperadas”, brincou.

Baependi deverá entrar, com a Beata Nhá Chica, no roteiro religioso de Aparecida e Guaratinguetá, cidades respectivamente do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida e de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, que ficam a 140 quilômetros de distância. “Não se pode comparar com Aparecida, nem queremos isso, mas com certeza Nhá Chica vai atrair muitos devotos”, disse d. Diamantino.

O entusiasmo é geral. As ruas de Baependi, de cerca de 19 mil habitantes, foram enfeitadas de amarelo e branco, as cores da Santa Santa Sé, com bandeirolas, faixas e cartazes espalhadas por toda parte. Milhares de devotos chegaram de outras cidades de Minas e de Estados vizinhos em caravanas. O centro de Baependi foi fechado, com acesso apenas para veículos cadastrados. Os visitantes foram aconselhados a utilizar transporte coletivo.

A Igreja preparou os fiéis para a beatificação com uma vigília de orações de Baependi, depois de uma procissão, na véspera à noite, pelas ruas centrais. Foi uma procissão solene na qual d. Diamantino levou o Santíssimo Sacramento (a hóstia consagrada), desde o Santuário de Nhá Chica até a matriz. Uma banda de música executou dobrados durante a cerimônia, enquanto os fieis cantavam hinos religiosos e rezavam.

D.Diamantino disse que a missa de beatificação começaria pontualmente às 15 horas. Embora seja uma celebração demorada, com previsão de duas horas e meia a três horas, o rito de beatificação é simples e rápido. Ele é realizado logo no início da cerimônia, entre o Kyrie e o Gloria, quando o bispo diocesano lê uma biografia resumida do candidato e pede ao celebrante que o declare beato. O cardeal Amato foi designado para presidir a cerimônia em Baependi.

Até o pontificado de João Paulo II, as beatificações eram feitas pelo papa, geralmente em Roma. O papa continua fazendo as canonizações. O beato é, na realidade considerado santo, com a diferença de que tem direito a uma veneração restrita a lugares onde viveu ou a comunidades religiosas a que pertenceu. Os santos canonizados podem ser cultuados universalmente pelos católicos.

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