Brasília – A pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) divulgada ontem mostra uma queda de 22 pontos percentuais na avaliação do governo entre janeiro de 2003 e março de 2004. Segundo a pesquisa, realizada pelo Instituto Sensus, no primeiro ano do governo Lula, 56,6% dos entrevistados faziam uma avaliação positiva da administração do presidente Lula, contra 34,6% em março de 2004.
A pesquisa mostra também uma queda na avaliação pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 83,6% em janeiro de 2003 para 59,6% em março de 2004. Entre fevereiro e março de 2004, a avaliação positiva do governo caiu de 39,4% para 34,6%. Segundo a pesquisa, 52% dos entrevistados não ouviram falar do caso Waldomiro Diniz, enquanto 18% disseram estar acompanhando e 25,9% apenas ouviram falar.
Segundo o presidente da CNT, Clésio Andrade, a queda da popularidade do governo foi mais influenciada pela condução da política econômica do que pelo escândalo envolvendo o ex-assessor parlamentar da Casa Civil. A pesquisa ouviu duas mil pessoas, em 195 municípios brasileiros, entre os dias 24 e 26 deste mês. O Índice de Satisfação do Cidadão é uma pesquisa realizada mensalmente em parceria com o Instituto Sensus e avalia o nível de satisfação do brasileiro com relação ao País, estados, cidades, instituições, consumo e serviços, inclusive os de transporte.
Clésio Andrade destacou que a pesquisa mostra que a área social, prioridade do governo Lula, não está sendo bem avaliada pela população. “Todos os indicadores sociais caíram. O social, uma das principais bandeiras do governo, está sendo muito mal avaliada pela sociedade. O resultado aponta a necessidade de o governo repensar com urgência o modo como vem gerenciando seus programas sociais e a sua atuação em relação à violência”, afirma.
Para os consultados, a área social piorou nos quatro quesitos consultados – saúde, educação, pobreza e violência. Para 84% dos consultados, a violência aumentou no País, contra apenas 3,4% que consideram que ela diminuiu. A piora na saúde foi apontada por 40% dos consultados (contra 34,1% em fevereiro); a educação piorou para 27,6% (contra 21,6% em fevereiro); e a pobreza aumentou para 68%, contra 60,1% em fevereiro.
Na sexta-feira passada, uma outra pesquisa mostrava queda nos índices de apoio popular do governo Lula. Segundo a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), pela primeira vez no governo Lula mais gente acha que o País está no caminho errado (46%), em relação aos que acham o contrário (40%).
Lula: “Não tenho poderes de Deus”
São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ontem que haja crise política no governo. “Não tem crise no governo”, assegurou. Segundo Lula, que discursou em cerimônia de entrega de 305 viaturas para a Polícia Rodoviária Federal, na sede da General Motors, em São Caetano do Sul, os adversários criam uma situação aparente de instabilidade no governo com objetivos eleitorais.
“Será que a crise já não é a eleição de 2004? Será que as pessoas não estavam preocupadas que meu partido pudesse ganhar muitas cidades e precisavam fazer o debate político?”, indagou o presidente. Apesar do momento turbulento, com o estouro do caso Waldomiro Diniz e a pressão por mudanças na política econômica, Lula disse estar otimista “porque o governo tem mais dinheiro para investir este ano”. Segundo ele, outra razão para o otimismo é o fato de os juros reais serem os “mais baratos” dos últimos anos.
“Estou otimista porque os bancos de investimentos têm mais recursos para investir. Estou otimista porque do ponto de vista da infra-estrutura nós temos condições de fazer as coisas, porque o Brasil vê a sua credibilidade internacional crescer a cada dia, otimista porque o crescimento econômico vai gerar pelo menos parte dos empregos que nós prometemos”, disse Lula.
Lula disse ainda que foi eleito para transformar o país. “Não queremos deixar esqueleto no armário para os nossos sucessores. Não fomos eleitos para governar por quatro anos, mas para criar a base sólida para que este país possa definitivamente se transformar numa grande economia”, afirmou.
Ao mesmo tempo em que fez estas afirmações, Lula também disse que sua gestão não pode ser responsabilizada, por exemplo, pela situação de penúria financeira de prefeituras e governos estaduais. “Senhores, não esperem que eu seja mais que um presidente da República, eu só tenho a Constituição para cumprir, não tenho os poderes de Deus para fazer milagres, sobretudo na relação com prefeituras e governos dos estados”, pediu.