Orkut também serve para venda de drogas

Orkut possibilita contatos sem
a necessidade de identificação.

Rio – O sucesso do site de relacionamentos Orkut, criado em fevereiro de 2004, não atrai apenas quem procura amigos. Diversas comunidades fazem apologia ao tráfico e ao uso de drogas. Há até leilões virtuais em que o preço, de ecstasy, por exemplo, é abertamente discutido. Links levam usuários para sites estrangeiros que enviam drogas para qualquer lugar do Brasil pelo correio. Conversas sobre novos entorpecentes, informações sobre remédios que podem ter efeito alucinógeno e fórmulas caseiras, como o chá de fitas cassetes, são trocadas pelos internautas da página.

Com um registro no site de relacionamentos, que pode ser feito com nomes falsos ou apelidos, qualquer um pode ter acesso a várias comunidades com nome de drogas. A ?Ecstasy-BR?, por exemplo, tem 5.424 participantes. Nela, usuários oferecem comprimidos do entorpecente a R$ 30, cada. A negociação também pode ser feita por e-mail.

?Tenho bala (ecstasy) e LP (lança-perfume). Se quiser negociamos?, disse, por e-mail, um dos participantes de comunidades de drogas.

Em mensagem anônima, uma pessoa contou que a Polícia Federal rastreou uma compra de drogas:

?Eu dei uma de mané tentando comprar bala por esta comunidade. Um cara me mandou uma mensagem, vi as fotos das balas e tomei um enquadro de policiais federais, que me levaram R$ 2 mil.?

Em outra postagem anônima, um usuário vítima de um golpe divulgou os números da agência bancária e da conta do falso vendedor que recebeu o seu dinheiro, mas não entregou a droga. O medo, no entanto, não impede as transações. Vendedores e compradores divulgam e-mails esperando um contato particular.

Algumas pessoas do Orkut dizem que é mais seguro comprar drogas fora da internet:

?O canal é ir a raves, tentar achar quem venda e formar os seus contatos. Achou alguém, pegue o telefone e compre direto com ele?, disse um jovem.

Usuários do Orkut divulgam sites de fora do Brasil. Um deles, argentino, vende lança-perfumes e entrega a droga pelo correio. Basta mandar um e-mail que eles respondem, em português, que a caixa com 12 ampolas custa R$ 139,63, a ser entregue em 72 horas: ?De venda proibida em alguns países, colocamos uma folha de alumínio que envolve a mercadoria e embalamos, frasco por frasco, para que possa trafegar com segurança entre um país e outro?.

Segundo Paulo Quintiliano, chefe do setor de perícia e informática do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, investigações em andamento rastreiam traficantes na internet:

?Os traficantes do espaço cibernético vendem desta forma ostensiva porque imaginam que estão gozando de um anonimato. Eles sentem o sabor da impunidade, mas isto é ilusório. Ele fica impune até que a polícia siga suas pegadas.?

A Polícia Federal, no entanto, não divulgou estatísticas sobre os números de prisões nem de esquemas de tráfico de drogas desbaratados. Quintiliano admite que as varreduras feitas pela polícia na rede são insuficientes para combater os traficantes.

?A gente sabe que pela internet acontecem todos os tipos de negócios criminosos. Há muitas comunidades, outras são de acesso restrito. Trabalhamos com denúncias feitas nas superintendências regionais ou pelo e-mail?, disse.

A velocidade com que novas comunidades surgem e o anonimato conseguido com falsos e-mails e acessos em locais públicos, com cybercafés, dificultam a localização dos traficantes, segundo a delegada Andréa Nunes da Costa Menezes, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI).

?Nossas ferramentas de combate são muito mais lentas do que a velocidade com que surgem novas comunidades de apologia a drogas e de tráfico. A inconseqüência dos jovens é muito grande. Eles se envolvem sem saber que há implicações legais?, disse a delegada.

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