Os partidos de oposição pretendem emparedar, hoje, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tanto na Comissão de Finanças e Tributação quanto na comissão especial do Fundef, ambas as audiências marcadas para a Câmara.
"Palocci vai ter de responder sobre corrupção no governo Lula, dinheiro de Cuba, tráfico de influência no seu ministério, empréstimos para o PT, Delúbio Soares", disse o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ). Quanto às suspeitas de corrupção na prefeitura de Ribeirão Preto, durante a gestão de Palocci, há um acordo tácito entre as oposições para que o tema fique para a CPI dos Bingos.
"Há acusações de que o Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT) intermediou operação de pagamento das autarquias para vários bancos. Vamos cair em cima disso", afirmou o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP).
De acordo com o requerimento de convocação de Palocci, apresentado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por interferência de Delúbio, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pagou R$ 1,46 bilhão aos bancos pela prestação de serviços à autarquia. "O nome de Delúbio, novamente volta à cena", disse Goldman. Antes, os bancos nunca haviam se preocupado com a cobrança.
A certeza de que o ambiente será hostil para Palocci levou os líderes dos partidos governistas a decidir comparecer em peso à Comissão de Finanças e à comissão especial do Fundef para proteger o ministro da Fazenda.
"Vamos todos para a comissão. Espero que a oposição trate o ministro com civilidade. Se ela ultrapassar o limite do que é razoável, nós vamos reagir" disse o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). "Se a oposição quiser usar seu espaço para desgastar o Palocci, o governo, o presidente Lula, se quiser ser oportunista, terá o troco", avisou Chinaglia.
"Nós não vamos dar refresco. Vamos perguntar tudo o que couber dentro do governo Lula, tudo o que for suspeito de corrupção, lobbies dentro do Ministério da Fazenda, e até sobre a pré-campanha de 2002", respondeu o líder Rodrigo Maia. "O que não vou fazer é perguntas sobre o superávit primário, não vou dar essa chance ao ministro". Para Rodrigo, o ministro da Fazenda sabe tudo o que acontece no governo, porque todos os órgãos têm ligação de uma forma ou de outra com o ministério comandado por Palocci.
Na comissão especial do Fundef, que trata do exame do projeto que cria o fundo de desenvolvimento para o ensino fundamental, em substituição ao Fundeb, o fundo aprovado no governo de Fernando Henrique Cardoso para o desenvolvimento do ensino básico, Palocci sofrerá um ataque pesado de um ex-aliado. O deputado Ivan Valente (SP), que deixou o PT e passou para o P-SOL, disse que vai sugerir a Palocci que se demita ali mesmo.
"Vou dizer para o ministro que o hipermensalão que ele paga aos bancos, em forma de juros, deixa no chinelo qualquer corrupção que ele tenha cometido em Ribeirão Preto. Por isso, vou sugerir que ele largue o ministério imediatamente", afirmou Valente.
Preocupado com possíveis agressões verbais ao ministro da Fazenda, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), decidiu pedir calma a todo mundo. "O ministro confirmou a presença. Espero que ele compareça, esclareça as dúvidas da matéria de interesse da Casa, que é o Fundef. Acho que ele será tratado de forma cortês e civilizada".
