Oposição quer o cofre longe da CPI

Brasília – Como tem acontecido todas as sextas-feiras, a oposição foi ontem à tribuna do Senado desferir seus ataques ao governo. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), pediu para o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, considerado pelo tucano como "o último bastião de credibilidade do governo", manter-se distante das ações para barrar a CPI em nome da estabilidade econômica.

O senador Arthur Virgílio disse ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não agiu de "boa fé" com o presidente do Senado, Renan Calheiros, ao garantir que não iria interferir na instalação da CPI dos Correios. Segundo ele, a notícia de liberação de quase R$ 400 mil de emendas parlamentares é a prova de que o Palácio do Planalto entrou com força total na "operação abafa". Outra que não poupou o governo foi a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), que voltou a acusar o governo de montar um "balcão de negócios sujos" para barrar a CPI.

"Protesto contra esse balcão de negócios sujos montado pelo governo federal com a intenção de obstaculizar a instalação da CPI. Existe algo de podre no reino da política e eles farão qualquer coisa para impedir a instalação da CPI. A imprensa apresenta detalhes sórdidos, com a participação de ilustres membros da base de bajulação do governo na Câmara e no Senado, mas eles vão acabar sendo identificados pela comissão", disse a senadora.

Heloísa pediu que a população utilize os meios de comunicação, como a internet, para pressionar os parlamentares em favor da CPI. "Apelo a todos aqueles que não sujam as mãos para que enviem mensagens, para ver se os parlamentares do Congresso Nacional têm vergonha na cara, pedindo a eles que não se submetam a esse balcão de negócios sujos e não façam parte dessa quadrilha de terno e gravata. O atual governo reproduz a mesma metodologia que condenávamos, a velha promiscuidade da relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional", disse a senadora.

O senador José Jorge (PFL-PE) também criticou a liberação das emendas neste momento e apresentou requerimento convocando o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para dar explicações à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Explicações

O senador José Jorge (PFL-PE) apresentou à mesa do Senado requerimento pedindo que o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, comparecer à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) para esclarecer informações de que estaria liberando recursos orçamentários para abafar a CPI dos Correios. Para o senador esse gesto é "de extrema gravidade" e mais grave do que aconteceu em Rondônia, onde os deputados estaduais recebiam R$ 50 mil para aprovar projetos de interesse do governador Ivo Cassol (PSDB).

Pelo acordo com os aliados, o ministro Antônio Palocci prometeu liberar R$ 1,5 milhão por emendas ao orçamento para cada deputado. "Isso tem efeito negativo também na opinião pública, é ruim para o governo e para a Câmara", afirmou José Jorge. Segundo ele, a CPI dos Correios tem apoio de 86% da população, de acordo com as últimas pesquisas, e da maioria dos parlamentares da Câmara e do Senado. "O governo ficará muito mal com essa operação", disse.

Funcionários dos Correios fazem protesto

Munidos de vassouras, baldes, água e sabão, um grupo de funcionários dos Correios promoveu ontem uma "limpeza" na fachada da empresa em Curitiba. O protesto aconteceu em frente ao edifício sede dos Correios, e teve o objetivo de mostrar a indignação da categoria em relação aos fatos de corrupção envolvendo o funcionário Maurício Marinho, flagrando recebendo propina. Os servidores aproveitaram a presença do presidente da empresa, João Henrique de Almeida Sousa, que esteve na capital visitando a unidade dos Correios local.

"Nós queremos preservar a imagem da empresa que foi desgastada com esse fato", disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios, Nilson Rodrigues dos Santos. Segundo ele, os trabalhadores exigem que esses e outros fatos sejam apurados com rigor, "pois esse não foi o primeiro caso de irregularidade na empresa". Rodrigues disse que há cerca de dez anos o sindicato já havia denunciado problemas na licitação com uma empresa de entregas. A mobilização dos trabalhadores, acrescentou o sindicalista, também é para demonstrar a contrariedade com a quebra do monopólio da empresa, tema que deve ser discutido nos próximos dias no Supremo Tribunal Federal.

O secretário geral da Federação Nacional dos Trabalhadores de Empresas de Correios, Telégrafos e Similares, Ivan Carlos Pinheiro, disse que esse tipo de mobilização deve se repetir em todo o País, "para mostrar para a sociedade que o carteiro que leva a empresa nas costas não está envolvido nessas irregularidades". Pinheiro afirmou que foi recebido pela manhã pelo presidente, e que o principal tema da conversa foi sobre o reajuste salarial da categoria – que tem data-base em agosto. Apesar de ainda não ter um índice definido, o secretário geral disse que Sousa se comprometeu em encontrar uma forma de atender o mais próximo possível do anseio da categoria. "Se isso não acontecer os funcionários prometem entrar em greve", garantiu Pinheiro.

Escondido

A visita do presidente dos Correios, João Henrique de Almeida Sousa à unidade Curitiba foi para conhecer a superintendência local, já que ele veio ao Paraná participar de um encontro de franqueados que está acontecendo em Foz do Iguaçu. Almeida não falou com a imprensa, e teria deixado o prédio da unidade pela porta dos fundos, enquanto a mobilização era realizada em frente à sede. O sindicato da categoria pretendia formar uma comissão para conversar com o presidente, mas isso não aconteceu.

A assessoria de imprensa dos Correios voltou a repetir o conteúdo de uma carta que foi enviada aos trabalhadores no mês de maio: "foi um fato isolado", e que todos os envolvidos serão punidos. A assessoria informou ainda que a direção da empresa está tranqüila quanto às investigações, e que ao longo das últimas três semanas nenhum fato novo foi descoberto, o que indica que tudo não passou de uma exceção dentro da empresa. (Rosângela Oliveira)

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