Brasília – Em mais um cochilo do governo, desta vez no Senado, a oposição conseguiu aprovar a convocação do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, para explicar a suposta intenção do Palácio do Planalto em transformar a Infraero em uma empresa de economia mista. O requerimento foi aprovado ontem na Comissão de Infra-estrutura, num movimento de partidos da oposição para, pela primeira vez, forçar a visita de Dirceu ao Congresso. Os parlamentares já haviam feito inúmeras tentativas, todas sem sucesso.
O PT, maior interessado em blindar o ministro mais atacado pelo PSDB e PFL, não compareceu à sessão. O líder do partido na Casa e membro da comissão, senador Delcídio Amaral (MS), foi avisado tarde demais por um assessor. No momento da votação, 17 parlamentares haviam assinado a lista de presença, nenhum deles do PT. Destes, apenas oito participaram da aprovação do requerimento.
No mês passado, a Comissão de Infra-estrutura já havia servido de palco para outra vitória da oposição que, com ajuda de senadores da base aliada, rejeitou Antônio Fantine para a presidência da Agência Nacional do Petróleo. Ao saber do novo revés, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), entrou no plenário e abordou o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), presidente da comissão, que colocou o assunto na pauta sem avisar os colegas: "Não foi certo o que você fez", disse Mercadante. Em seguida, dirigiu-se a Delcídio e reclamou da falha.
"Não existe precedência de colocar, extrapauta, matéria polêmica ou convocar ministro. Nossa disputa aqui é pactuada. Quando queremos chamar ministro, fazemos isso como convite e não como convocação", afirmou.
Ele e Delcídio querem agora consertar o erro. Vão tentar convencer os líderes dos partidos de oposição a transformar a convocação em convite, o que daria a Dirceu a liberdade de aceitá-lo ou não ou de indicar outro representante do Executivo para falar sobre o assunto.
O governo estaria estudando a possibilidade de chamar o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, ou o próprio presidente da Infraero, Carlos Wilson. Caso não haja acordo e Dirceu falte à sessão na data combinada sem justificar a ausência, ele poderá ser processado por crime de responsabilidade.
