José Cruz / Agência Senado |
Delcídio Amaral: pedido de quebra |
Brasília (AE) – As lideranças governistas adotaram, na CPMI dos Correios, uma estratégia que poderá prolongar até março de 2006 os trabalhos de investigação ou gerar a instalação de uma nova CPI para concluir os trabalhos. É o que pensam as lideranças da oposição sobre o comportamento da bancada oficial nas últimas duas semanas, de negar quorum às sessões administrativas.
O objetivo do governo é evitar a votação de requerimentos que a oposição considera cruciais para desatar o escândalo político e concluir os trabalhos até a primeira quinzena de dezembro. O governo está recompondo a base aliada e tenta obter o controle total das CPIs em funcionamento.
O pedido de prorrogação de prazo se tornará inevitável, diz o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Caso tenha êxito a estratégia do Palácio do Planalto, e também seja negado o pedido de prorrogação, os oposicionistas pretendem apresentar o pedido de instalação de uma CPI exclusiva no Senado para concluir as investigações, começando o trabalho a partir do ponto em que for interrompida a CPMI dos Correios. ?Nós não vamos aceitar a pizza?, disse o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio.
Virgílio disse também que, caso os governistas continuem a negar quórum para que se decidam quebra de sigilos que podem finalmente revelar a origem das movimentações bilionárias do publicitário Marcos Valério de Souza e do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, a oposição promoverá uma campanha de denúncias do que já chama de ?trabalho de pizzaiolo?. ?Estamos chegando à fonte do dinheiro onde bebiam Valério e Delúbio?, disse Virgílio.
A CPMI dos Correios tenta há duas semanas aprovar pedidos de quebra dos sigilos bancários de corretoras e fundos de pensão suspeitas de terem operado para o esquema do mensalão junto aos bancos BMG e Rural e que seriam a explicação tanto para a versão de empréstimos ao PT apresentada por Valério e Delúbio quanto para os pagamentos a parlamentares dos partidos da base aliada.
O governo adotou uma contra-ofensiva na CPMI dos Correios a partir da reorganização da base aliada em torno da candidatura bem-sucedida do ex-ministro Aldo Rebelo à presidência da Câmara. Os governistas, que têm maioria na CPI dos Correios, passaram a negar quórum às sessões, retirando-se do plenário no momento das votações.
A senadora Ideli Salvati (PT-SC) tem liderado a execução da estratégia. O risco que o Palácio do Planalto corre é o de obter o efeito indesejado, para ele, da prorrogação da CPI até março do ano que vem, quando estarão em curso as movimentações para a eleição presidencial, ou então o de ver instalada uma CPI exclusiva do Senado, onde o governo é minoritário, e perder completamente o controle das investigações.
Delcídio fala em renunciar à CPMI
Brasília (ABr) – O presidente da CPMI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), criticou ontem a tentativa de parlamentares da base aliada de ?manobrar? regimentalmente para não votar os requerimentos de quebra de sigilo de seis corretoras financeiras e ameaçou colocar o cargo à disposição. ?Se essas mazelas continuarem, eu não vou me prestar a esse papel. Não presido a comissão se essas manobras continuarem?, afirmou o senador. ?As reuniões não podem mais ser canceladas por falta de quorum. Isso põe em risco o trabalho da comissão e depõe contra os parlamentares. Está havendo uma politização excessiva do processo.?
Hoje, Delcídio disse que vai colocar em votação a quebra de sigilo das corretoras. Na reunião administrativa, ele também deve apresentar um relatório parcial sobre os contratos dos Correios com a empresa aérea Skymaster, responsável pelo serviço de Correio Aéreo Postal. O parlamentar considera esse momento ?crucial? para tornar os trabalhos mais profissionais e técnicos. Nesta semana, os integrantes da comissão finalizam os acertos para a contratação de uma ou até mesmo duas empresas de auditoria que farão uma análise dos dados da CPI.