Brasília (AG) – Um fantasma do passado ronda os candidatos petistas à presidência da Câmara e o próprio presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP).
Todos reconhecem que o PT pode provar agora de seu próprio veneno, porque na maioria das vezes, quando estava na oposição, não aceitou participar de um acordo para apoiar o candidato da bancada majoritária e sempre lançou candidato avulso para marcar posição.
Agora, a oposição ameaça fazer o mesmo com os petistas, em mais um movimento dos adversários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra as posições adotadas pelo Palácio do Planalto.
Além dos 11 pretendentes ao cargo que já estão na Câmara, outros petistas hoje no Executivo são citados nas rodas políticas de Brasília como alternativas pensadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a maioria dos deputados petistas considera um risco muito grande o presidente Lula bancar candidaturas de ministros como Ricardo Berzoini (Trabalho) ou Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), como já foi especulado. O único ministro que, apesar do desgaste, poderia ter força na bancada é José Dirceu, da Casa Civil. Os protestos contra uma imposição do Planalto vêm até dos mais fiéis aliados.
"A escolha terá que se dar em um processo mais coletivo, discutido na bancada, com o Planalto", diz Virgílio Guimarães (PT-MG). O deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ) diz que um candidato imposto pelo Planalto ou pelo PT corre o risco de ser derrotado na disputa com outros concorrentes. "Se usarem o rolo compressor na bancada, há o risco de derrota em plenário", avisa Biscaia.
Diferença
Na eleição de João Paulo a situação era diferente: o PT saía forte das urnas, com a eleição de Lula e de mais de 90 deputados federais. O petista contou com o apoio de todos os partidos. Para um pretendido segundo mandato, João Paulo chegou a contabilizar o apoio do PFL, mas agora que haverá nova disputa, com a participação de um candidato novo do PT, parte da oposição e a ala rebelde peemedebista iniciam um movimento para também lançar candidatos nas duas Casas.
O grande desafio do PT será garantir o apoio do PMDB para a eleição de seu candidato na Câmara. Com isso, acreditam petistas ligados ao Planalto, os demais partidos da base aliada vão apoiar também o candidato escolhido. Mas como a votação é secreta, a possibilidade de traição é grande. Se três candidatos forem lançados, nenhum obtiver 257 votos e houver segundo turno de votação, o PT corre o risco de ver seu candidato sendo derrotado pela oposição, com a ajuda de forças aliadas.
Cargo alavanca projetos políticos
Brasília (AG) – Não é à toa que as disputas pela presidência da Câmara são tomadas às vezes como uma questão de vida ou morte política, suscitando traições, recomposições e rebeliões até mesmo entre aliados. Poucos deixaram o cargo e voltaram para a planície ou desapareceram no cenário político.
Além de presidir a mais agitada Casa legislativa do país, o eleito se senta na cadeira da Presidência da República e dali quase sempre é catapultado para os mais altos cargos nos estados ou na República. O antecessor do presidente João Paulo Cunha, Aécio Neves (PSDB-MG), antes tido como o menino que aproveitava o legado de herdeiro de Tancredo Neves, pulou da Câmara para o Palácio da Liberdade com uma votação extraordinária.
O petista João Paulo, frustrada a reeleição, se prepara para tentar salto parecido, disputando em 2006 o governo de São Paulo. Mas ninguém marcou mais sua passagem pela presidência da Câmara que Ulysses Guimarães, que acumulou, na mesma época, a partir da morte de Tancredo, a vice-presidência da República, a presidência da Assembléia Constituinte, a Presidência da República interinamente e a presidência do PMDB, quando a legenda estava no apogeu do poder.
Poder
Com tanto poder, Ulysses era o terror do presidente José Sarney. Nas interinidades na Presidência, nunca usou o cargo para violentar atos do titular, mas vetava ministros, como aconteceu com Tasso Jereissati, escolhido para a Fazenda e depois desconvidado por causa da irritação de Ulysses. Justamente pela proximidade do governo, e por ter acumulado tanto poder, desgastou-se e nunca conseguiu realizar o sonho de chegar eleito ao Planalto.
Também na ditadura o cargo era um degrau importante da política. O hoje senador Marco Maciel começou na presidência da Câmara uma sólida carreira justamente pela proximidade com os militares. Depois de presidir o Legislativo elegeu-se governador de Pernambuco, senador e vice-presidente da República em dois mandatos de Fernando Henrique, voltando agora ao Senado.
Ao contrário da maioria dos ex-presidentes da Casa, o falecido deputado Luiz Eduardo Magalhães, ao deixar o cargo, não buscou imediatamente disputar um maior, no Executivo.
Petistas fazem encontro em Brasília
Começa amanhã, em Brasília, o Encontro Nacional de Prefeitos e Prefeitas do PT, que reunirá pela primeira vez os petistas eleitos pelo partido nas últimas eleições municipais. No Paraná, são 29 prefeitos, incluindo o de Londrina, Nedson Micheleti, vitorioso na disputa à reeleição. O evento contará ainda com a presença dos prefeitos atuais (os não reeleitos ou que reelegeram seus sucessores), da direção nacional do partido, de ministros do governo federal e de parlamentares. Os vice-prefeitos eleitos também foram convidados. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará da abertura.
Segundo o secretário nacional de Assuntos Institucionais do PT, Paulo Ferreira, 320 dos 411 prefeitos eleitos já haviam confirmado a participação no evento até o meio-dia de sexta-feira (26). O encontro dura dois dias e termina na terça-feira.
Mais robustez
O dirigente ressaltou que o PT estará presente de uma maneira robusta pelo país pela primeira vez na sua história político-administrativa. A legenda teve um aumento de 120% no número de cidades que passará a administrar em 1.º de janeiro. "Nos deslocamos do eixo das grandes cidades do Sul e Sudeste, algo que nos dará uma dimensão mais extensa", afirmou.
Ferreira disse que, para a direção nacional do PT, o encontro pode oferecer um aprofundamento do programa do partido com o objetivo de articular o relacionamento entre as novas prefeituras e o governo federal. O secretário destacou que a ampliação do campo de influência petista só deve ajudar a legenda. "O que vai presidir as relações do PT são equilíbrio e democracia, que para mim são fundamentais", afirmou. "Não desconsideraremos as regiões históricas, mas teremos os olhos abertos para acolher essa nova realidade."
De acordo com o dirigente, no evento será debatida uma condição inédita: pela primeira vez os novos prefeitos petistas vão ter a oportunidade de iniciar o mandato com um presidente da República do mesmo partido. "Num governo do PT, nunca houve essa novidade porque estávamos no terceiro ano e o Lula, no primeiro", disse. Para Ferreira, pode ser que os novos prefeitos contem com a parceria do governo federal durante seus quatro anos de mandato, se Lula for reeleito.
Entre os expositores do encontro estarão o subchefe de Assuntos Federativos da Casa Civil, Vicente Trevas, e os ministros da Saúde, Humberto Costa; das Cidades, Olívio Dutra; do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias; e da Educação, Tarso Genro.