Barracas nas ruas, colchões sobre as calçadas, fogueirinhas para refeições e moradias provisórias. Nada disso mais é admitido nas ruas da Mooca e do Brás, na zona leste de São Paulo, onde as autoridades declararam “tolerância zero” a crime, lixo e moradores de rua.
O termo foi escolhido pelo capitão Aldrin Córpas, da Polícia Militar, para as operações que passou a fazer em apoio aos trabalhos de limpeza urbana da Subprefeitura da Mooca. Ele ainda postou fotos do “tolerância zero da Mooca” no Facebook, pedindo apoio da população.
A forma como as autoridades estão desempenhando a tarefa, contudo, causou polêmica. Parte dos moradores aplaude o trabalho da Prefeitura e da PM, como mostram as mensagens que Córpas recebeu em sua página pessoal na rede social.
Outros criticam a truculência das operações. “Não acho que moradores de rua devam ser tratados com caminhão de lixo”, reclama Tânia Barbosa, presidente do Conseg Pari Brás. O padre Julio Lancellotti, Vigário para o Povo da Rua, também protestou pela maneira como as abordagens estão sendo feitas.
Documentos e pertences pessoais são levados, como o de uma moradora de rua que teve levada a bolsa com a última foto que tinha da mãe. “É uma antiga visão higienista da sociedade, que permanece”, diz. Eliana Andreassa, de 37 anos, é uma das moradoras dos arredores do Viaduto Bresser que perdeu documentos nas abordagens municipais. Ela chegou a São Paulo faz três meses, vinda de Dois Córregos, no interior do Estado. “Eles disseram que era para recolher meus objetos pessoais. Corri, mas não deu tempo de pegar a minha bolsa com meus documentos. Agora, preciso retirar os documentos para ir embora para casa”, disse.
O local de concentração dos moradores de rua fica ao lado de um depósito de cimento, onde caminhões chegam e saem a todo instante. Os sem-teto desempregados passaram a montar barracas de lona ao lado da ponte para fazer bico. Poucos metros ao lado, existe uma tenda municipal para moradores de rua.
‘Problema social’. O subprefeito da Mooca, Francisco Carlos Ricardo, afirma que realmente intensificou a operação de limpeza urbana. Mas que não busca atingir os moradores de rua. “É um problema social e eles devem ser encaminhados aos serviços sociais do Município.” A PM disse que não iria se manifestar por agir em apoio à subprefeitura. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.