Brasília – Das 80 toneladas de cocaína que passam pelo Brasil a cada ano, 40 toneladas permanecem  no país para consumo interno, enquanto outras 40 são traficadas, via países africanos, com destino à Europa.

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A estimativa é do representante regional do Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crimes (UNODC), Giovanni Quaglia, ao lembrar que em termos globais o Brasil consome 15% do que é produzido no mundo. "O tráfico não é só de cocaína, é também de drogas sintéticas e pessoas. Hoje falamos sempre mais em crime organizado e menos em tráfico de drogas. Sem contar o problema da corrupção, presente em todas as ações do crime organizado para que ele funcione", disse.

Quaglia participou nesta segunda-feira (25) da cerimônia de abertura do treinamento de agentes e peritos criminais da América do Sul e de países africanos de língua portuguesa. O objetivo é reduzir a rota do tráfico de drogas que saem do continente. ?Parte dessa cocaína passa pelo Brasil, vai à África e sobe para a Europa. Com esta novidade, é preciso fortalecer os laços com os países africanos e latino-americanos, para criar uma rede de peritos e agentes policias amigos que possam ajudar a melhorar o combate ao crime organizado?, reiterou.

Ele lembrou que a cocaína movimenta, atualmente, cerca de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) de todo o mundo. Em países como Bolívia, Colômbia e Peru, o índice pode chegar a 3% do PIB local. Segundo Quaglia, os números caem para 0,1% nos países europeus, apenas porque o valor das economias no continente é mais elevado: ?Quando deduzimos tudo que a polícia apreende ? 600 toneladas para o consumo mundial ? isso representa em torno de US$ 80 bilhões no mundo?.

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Ao tratar especificamente do tráfico de cocaína, ele reforçou que Europa e Estados Unidos registraram pequeno crescimento nos últimos cinco anos, enquanto o Brasil elevou em 30% o consumo da droga e está entre os países onde o tráfico mais cresceu na América Latina, ao lado de Argentina e Uruguai.

O consumo de drogas, segundo Quaglia, ?acompanha? o desenvolvimento dos países. Ele citou como exemplo a Espanha, que nos últimos 20 anos apresentou grande expansão econômica e, atualmente, tem prevalência anual no consumo de cocaína superior à dos Estados Unidos ? três espanhóis usaram cocaína pelo menos uma vez no ano passado, enquanto 2,8 americanos consumiram a droga no mesmo período.

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Agentes e peritos de países africanos como Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, além de nações sul-americanas como Bolívia, Chile, Colômbia, Paraguai, Peru e Uruguai começaram a ser treinados nesta segunda-feira pela Polícia Federal brasileira, em parceria com o UNODC.

O Relatório Mundial sobre Drogas, publicado pelo UNODC em 2007, aponta Brasil, Peru e Venezuela como os países mais citados na rota da cocaína que sai da América do Sul para a Europa e que passa pela África. E revela que um quarto de toda a cocaína consumida na Europa chega ao continente por meio de países africanos.