A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma estar "muito preocupada" com as informações dadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) de que haveria plantações de coca em tribos indígenas e estima que o fato deva servir como um sinal para que a fiscalização na região seja reforçada. O temor das Nações Unidas é de que os traficantes estejam começando a usar a Amazônia brasileira não apenas para o tráfico das drogas, mas também para sua produção, "exportando" o modelo já usado na Colômbia.
No início da semana, o Exército confirmou que encontrou hectares ocupados com pés de coca na região de Tabatinga (AM). "Isso é algo muito preocupante", afirmou o representante do Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crimes (UNODC) para a América do Sul, Giovanni Quaglia. "Existe a coca nativa, que é usada tradicionalmente pelos indígenas há milênios. Mas não a cultivada com a finalidade do comércio", explicou Quaglia.
"Os 7 mil pés de coca encontrados é um sinal de que o governo precisa ficar de olho no que está ocorrendo para evitar que esse volume aumente. A realidade é que o potencial de cultivo na região é enorme", alertou o representante da ONU.
O que mais preocupa a ONU é de que os traficantes colombianos estejam levando para o Brasil seu modelo de produção e que o País passe a fazer o "trabalho sujo" que hoje ocorre nos territórios vizinhos. Na Colômbia, Bolívia e Peru, tem se tornado normal que traficantes consigam o apoio de pequenos agricultores para plantar coca e lhes vender toda a produção. "A população rural é recrutada para a plantação, principalmente aqueles que não encontram trabalho", explicou Quaglia.
Segundo a ONU, esses produtores não chegam a ganhar sequer um salário mínimo dos traficantes, que ficam com praticamente todo o lucro do comércio de drogas. "O que preocupa é se os traficantes passarem a usar a mesma estratégia no Brasil", afirmou.
Em termos de condições naturais, a ONU destaca que seria "absolutamente possível" produzir coca no lado brasileiro da Amazônia. "As condições ambientais são iguais no Brasil, Colômbia e Bolívia. Não é verdade que a coca cresce apenas em certas altitudes mais elevadas", afirmou Quaglia.
Uma das técnicas usadas pelos traficantes nos países andinos é aproveitar as reservas naturais para cultivar a droga. "Como os governos não podem desmatar essas regiões, os traficantes a usam e plantam entre as árvores de grande porte. Portanto, não é porque há uma reserva ecológica que o controle não deva ser feito", alertou.