Projeto da prefeitura de construir terminais para passageiros do transporte coletivo na frente da Catedral causa polêmica em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Representantes de 22 entidades da sociedade civil protocolaram nesta sexta-feira um pedido de intervenção do Ministério Público Estadual para barrar o plano. De acordo com o secretário executivo do Forum de Entidades de Ribeirão Preto (Ferp), Cantidio Maganini, a obra vai aumentar o tráfego desses veículos no entorno e por em risco a integridade da igreja, cuja construção foi iniciada em 1904 e concluída em 1920. As vibrações do solo decorrentes do tráfego pesado já teriam causado trincas na estrutura.
A cúria diocesana também se opõe ao projeto. O padre Francisco Moussa, pároco da Catedral, realizou vigílias e ciclos de orações com os fiéis pela preservação da igreja. Segundo ele, um laudo encomendado pela cúria atestou que a estrutura apresenta trincas causadas por infiltrações e agravadas pelo tráfego pesado. O laudo recomenda que não sejam adotadas novas fontes de vibrações ao redor da construção. O padre afirmou que o movimento maior, com mais ruídos, também pode prejudicar as atividades religiosas.
Tombada pelo patrimônio histórico do Estado em junho deste ano, a Catedral Metropolitana de São Sebastião abriga relíquias históricas, como as telas retratando a vida do padroeiro, pintadas entre 1916 e 1922 por Benedito Calixto, um dos expoentes da arte sacra brasileira. Para a subsecção local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), entidades que também assinam o documento, o projeto amplia a circulação de veículos pesados numa região que deveria, ao contrário, ter restrições ao trânsito. O MPE vai analisar o caso e deve pedir informações à prefeitura.
Por meio da assessoria de imprensa, a prefeitura informou que não será construído um terminal no local, mas estações de embarque de vidro e aço tubular para dar mais conforto aos 60 mil passageiros que utilizam os pontos existentes na área. Dos cinco pontos previstos, apenas dois ficam em frente à catedral e não haverá alteração no número de linhas que passam pela região – hoje são 39.
O projeto, segundo a prefeitura, foi aprovado pelo conselho estadual do patrimônio histórico, com a ressalva de que seja feito um estudo para verificar se as trepidações podem comprometer a Catedral. A Empresa de Trânsito e Transporte está contratando a perícia e o laudo será encaminhado ao MPE. A prefeitura informou ainda que o pavimento das ruas em torno da Catedral, que era de asfalto sobre paralelepípedo, foi trocado por concreto armado, mais resistente às vibrações.