Integrante do Clube da Caçamba SP no Facebook, a costureira Vera Lúcia Rosa, de 48 anos, está sempre atenta às caçambas quando vai buscar a neta Isadora, de 10 anos, na escola. Entre Santa Cecília e Higienópolis, já resgatou de enciclopédias Barsa antigas até uma cabeceira de cama novinha, que colocou no quarto.
“A minha netinha falou: ‘Ai, a vovó vai catar outra coisa no lixo'”, lembra Vera sobre o dia em que retirou três varais de teto de uma caçamba, há dois meses. Todos viraram murais, dois para o ateliê da costureira e, um, para o quarto da neta, no qual a menina pendura fotos e bilhetinhos. “Ela acaba ajudando a dar novos usos, ideias, também gosta de reaproveitar.”
Hobby
Já o designer de móveis Carlos Henrique Magoga, de 38 anos, viu nas caçambas uma forma de potencializar um hobby. A primeira experiência com marcenaria veio aos 10 anos, quando transformou uma caixa de feira em um baú para guardar figurinhas. Nos anos seguintes, fez itens para si e para amigos, sem pretensões, o que mudou em 2014, quando deixou o mercado imobiliário por estresse. “Foi uma terapia que virou ganha-pão.”
Hoje, ele mantém a Magma Criativa, que faz peças sob encomenda com materiais, em grande parte, retirados de caçamba. Primeiro, as peças vieram do centro de São Paulo, mas, ao mudar-se para São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, descobriu novos pontos onde poderia encontrar material, criando um roteiro de “garimpo”.
Na bicicleta, Magoga instalou um bagageiro com elásticos onde coloca as madeiras. “Já amarro e levo na hora”, explica. Ele conta que encontra muito batente de porta e esquadrias com pequenas avarias. “Onde pessoas enxergam lixo, eu enxergo luxo.”
Parte das peças que criou deve dar origem a uma exposição em 2019. Uma delas é um balanço feito com uma tábua de peroba-rosa, que encontrou coberta de limo sob um viaduto. “Lavei a madeira com bucha e esfreguei com sabão. É o mais legal: recuperar a beleza de algo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.