Onças buscam refúgio em canaviais e viram vítimas

Um filhote de onça parda com queimaduras por todo o corpo foi resgatado pela Polícia Ambiental, após ser encontrado pelo funcionário de uma usina de Tupã, no oeste paulista, em área de canavial queimado para colheita, na segunda-feira, 16. O felino, um macho de dois meses, foi sedado e levado para o santuário da Associação Protetora dos Animais Silvestres de Assis (Apass). A entidade já havia recebido, dois dias antes, outro filhote de onça parda com a ponta do rabo cortada por uma colhedora de cana-de-açúcar numa fazenda da região.

Para a ambientalista Natália Thomaz de Godoi, diretora da Apass, as ocorrências mostram que a redução das matas no interior paulista está levando os felinos a se adaptarem a um novo habitat: as ‘florestas’ de cana. “Temos agora seis onças pardas em nossas instalações, todas resgatadas em canaviais”, disse. Quatro espécimes, entre eles o filhote que teve parte da cauda decepada, foram encaminhados pelo mesmo grupo, que tem duas usinas na região. “A gente sabe que o problema ocorre na maioria das usinas, mas poucas socorrem os animais feridos. Em muitos casos, acabam de matar e enterram no meio da cana”, disse a diretora.

 

O veterinário que trata o filhote resgatado em Tupã verificou que ele já havia sido queimado cerca de dez dias antes, pois tinha feridas cicatrizadas na orelha e nas patas. “Ele provavelmente escapou do fogo refugiando-se na cana crua, que dias depois também foi queimada.” Segundo ele, na ausência das matas, os canaviais oferecem às onças pardas um ambiente favorável à reprodução. “Espécies que são presas, como a lebre e a pomba do mato, também se abrigam na cana.”

 

O aumento na população de onças nos canaviais levou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) a assinar um acordo com a União da Indústria Canavieira (Única), que agrega grande parte dos usineiros paulistas, para a proteção da onça parda. A parceria, firmada no final de junho deste ano, terá duração de dois anos e vai capacitar os técnicos das usinas associadas sobre como proceder em caso de acidentes com os felinos. Está prevista a construção de um centro para a reabilitação de animais, visando posterior reintegração à natureza e monitoramento via satélite. A parceria reforça a manutenção de matas ciliares e de reserva legal nas propriedades.

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