A Organização Mundial da Saúde (OMS) convocará seu comitê de cientistas para declarar o zika vírus como uma “ameaça internacional para saúde pública”. O anúncio da convocação dos especialistas será feito nesta quinta-feira, 28, pela diretora da OMS, Margaret Chan, criticada por organizações não governamentais (ONGs) e cientistas por não ter agido até agora para frear a doença. O encontro deve ocorrer na semana que vem e contará com cientistas brasileiros.
O grupo de especialistas vai se reunir nos próximos dias e, se considerar que a ameaça é global, o alerta será lançado. Isso exigirá que governos de todo o mundo coloquem medidas para identificar o vírus e recomendações sobre viagens poderão ser realizadas. O Brasil, porém, já trabalha nos bastidores para evitar que a OMS declare algum tipo de restrição, principalmente no ano de Jogos Olímpicos.
Antes de convocar a reunião, a OMS estava sendo duramente criticada por repetir os mesmo erros do Ebola. Segundo cientistas, o zika vírus tem um potencial de se tornar uma pandemia “explosiva”. O alerta está sendo feito por cientistas americanos que, nesta quinta-feira, publicam um apelo à agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para que não repita com o zika os mesmos erros do combate ao Ebola, doença que foi negligenciada por meses pela OMS antes de sair de controle.
“A doença hoje tem um potencial pandêmico explosivo”, indicaram os cientistas, acusando a OMS de não agir.
Segundo a reportagem apurou com exclusividade, a primeira notificação à entidade ocorreu em outubro. Mas nada foi feito e toda a gestão da doença foi deixada para a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
Em um documento publicado nesta quinta-feira no Journal of the American Medical Association, os cientistas pedem que a OMS aprendam as lições do Ebola. O temor dos cientistas é de que, mesmo que uma vacina esteja pronta em dois anos, sua chegada ao mercado pode levar uma década.
O artigo é assinado por Daniel Lucey e Lawrence Gostin e considera que o fracasso da OMS em agir levou a milhares de mortes na África. O mesmo cenário poderia ocorrer se uma ação imediata não for tomada.
“Um Comitê de Emergência deveria ser convocado de forma urgente para aconselhar a diretora-geral (da OMS) sobre as condições necessárias para se declarar uma emergência de saúde pública “, escreveram os cientistas. Para eles, ao convocar o encontro, a OMS poderia estar ajudando também a mobilizar recursos.
A diretora da OMS, Margaret Chan, declarou à reportagem nesta quarta-feira, 27, que “o mundo inteiro está preocupado” com a proliferação de casos. Mas não deu indicações do que pretende fazer. Duramente criticada por sua gestão do Ebola, Chan fará um discurso sobre o zika. Mas não responderá perguntas dos jornalistas.
O vírus foi descoberto em Uganda em 1947 e os primeiros casos humanos registrados na Nigéria em 1954. Em 1977, ele foi registrado no Paquistão e, 20 anos mais tarde, na Micronésia. A Polinésia Francesa foi alvo de um surto em 2011 e, agora, a OMS estima que todo o continente americano será afetado.
“Apesar da ameaça global, a diretora da OMS não convocou um comitê de emergência para aconselhar países sobre assuntos críticos como controle do vetor, preparação dos sistemas de saúde, recomendações de viagem e evitar medidas punitivas”, indicaram os cientistas. “Ainda que o Brasil, Opas e o CDC (Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos) agiram rapidamente, a sede da OMS até agora não tem sido pró-ativa, dando espaço para potencial ramificações”, concluíram.