Não sobrou nada

Oficina do cuteleiro Miltão das Facas é destruída por temporal em Curitiba; amigos fazem vaquinha

Foto de como ficou o barracão do Milton Rodrigues, no bairro Tingui, após temporal em Curitiba. Foto: Arquivo Pessoal.

As chuvas que castigaram Curitiba, especialmente os bairros Alto, Bacacheri, Tingui e Santa Cândida, na última sexta-feira (09), deixaram estragos, prejuízos e um cenário de tristeza para centenas de famílias. Uma delas é a do senhor Milton Rodrigues, que em todo o Brasil é conhecido como “Miltão das Facas“. O cuteleiro de 62 anos, que já representou Curitiba em competições internacionais, como no Desafio Sob Fogo, viu sua oficina ser destruída pelo temporal de granizo.

Assista ao vídeo do estrago causado pelas chuvas na oficina do Miltão

“Não tem como estimar o prejuízo, pois não consegui ligar o maquinário ainda. Mas molhou tudo. Tem que deixar secar bem para ver se algum ainda funciona. O barracão acabou, tenho que fazer de novo, pois arrebentou tudo, toda a fiação e tudo mais. Vou correr atrás para acabar de desmontar e dai ter uma ideia melhor”, disse à Tribuna.

Milton já foi personagem dos Caçadores de Notícias aqui na Tribuna, que também acompanhou sua saga no Desafio Sob Fogo. A estrutura do barracão, que ficou famosa entre os seus quase 125 mil seguidores no Instagram, era de madeira e telhas de fibrocimento, “vítimas” comuns de chuvas fortes com granizo. Agora, Miltão quer construir uma estrutura de aço, mais forte e também mais adequada para remontar sua oficina.

No entanto, o desafio será grande (e caro). Mas, a solidariedade de seguidores do Miltão nas redes socias e, especialmente, da família brasileira de cuteleiros, a missão talvez não seja tão árdua assim.

Uma rede de solidariedade rapidamente surgiu, um grupo de WhatsApp com centenas de membros foi formado e artistas da cutelaria de todo o país têm leiloado facas e acessórios com renda 100% revertida pro Miltão. Além disso, uma vaquinha foi criada e depósitos e transferências vieram de todo o Brasil.

“A cutelaria nacional, sempre foi muito unida, não tratando-se apenas de cuteleiros, mas também dos administradores da “arte afiada”. Sempre que uma pessoa ligada ao meio (em especial o “Miltão”) passa necessidade, todos de uma maneira ou de outra, se mobilizam em prol daquele que assim necessita”, explicou Daniel Groth, da DG Blades, revendedora de facas que fica em Bom Princípio, interior do Rio Grande do Sul.

Daniel foi um dos compradores do leilão que está acontecendo num grupo de WhatsApp. “Este laço de união é algo surreal, dificilmente visto em outros segmentos, uma vez que, cuteleiros, clientes e admiradores da arte, se reúnem pra doar espontaneamente, todo e qualquer valor, para reerguer o amigo. Só quem faz parte do meio, entende a ‘doação’, digamos assim, que as pessoas disponibilizam, nem entrando no mérito de valores, mas principalmente em matéria de promover ações para que o prejuízo seja sanado o mais rápido possível”, contou à Tribuna.

O grupo, segundo Daniel, foi montado mesmo com uma certa rejeição inicial por parte do Miltão,. já que por sua personalidade, tem por princípio sempre “dar um jeito pra tudo”). “Hoje já contamos com uma grande quantia arrecadada, de forma espontânea, para que o mais breve possível, nosso amigo possa retomar seu trabalho”, finalizou Daniel.

Julio Guasqueiro também representou o Brasil em uma temporada do Desafio Sob Fogo e é um dos colaboradores. “Eu e o Miltão temos grandes coisas em comum, como a garra de vencer, a simplicidade estampada e o carinho com nossos fãs. Quando soube do acontecido fiquei muito emocionado e triste porque nos já conversamos várias vezes sobre nosso começo que é muito parecido”, lembrou o cuteleiro.

A vontade de ajudar foi quase uma obrigação, pois em outra oportunidade foi Milton quem ajudou. “Numa conversa dessas dentro da própria oficina do Miltão, que o vento destruiu, ele me presenteou com uma bigorna que era a única coisa que me faltava pra completar minha oficina”, disse. “Já fiz minha contribuição e estou me mobilizando pra ajudar na construção desse sonho que um dia já foi meu, Miltão merece tudo de melhor”, concluiu.

Apoio emociona

Além de leilões, vem mais coisa boa. Segundo Ismael Biegelmeier, cuteleiro e professor há 17 anos, um dos criadores do grupo, nessa semana começam rifas para ajudar o MIlton. “Acompanhei de perto todo o desenvolvimento da Cutelaria Brasileira. Com uma certa frequência acontece algum tipo de acidente, doença ou perdas materiais com algum de nossos colegas, e é incrível como temos uma união forte! O Miltão é o caso atual, mas antes dele foram inúmeros os ‘irmãos do aço’ que já foram ajudados! Como o Miltão é uma ‘figura folclórica’ e além de tudo tem um coração gigante, não seria diferente toda essa mobilização!! Certamente foi a maior onda de ajuda já feita a um Cuteleiro”, contou.

O cuteleiro de Curitiba se emocionou. “Rapaz, não imaginava que o pessoal me queria tão bem. Tem gente de todo lado me dando uma força. É maravilhoso isso aí. Fico até sem palavras, pois não fazia ideia desse carinho. É algo inacreditável. O pessoal é muito TOP”. emocionou-se Milton Rodrigues.

>>> Acesse a vakinha e ajuder o Miltão você também. O PIX para doações direto pro MIltão é 18871164865 (CPF).

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