Brasília – O presidente do Partido Trabalhista Brasileiro, José Carlos Martinez (PR), afirmou ontem que reuniu lideranças em Brasília e ficou decidido que o partido vai apoiar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, “não por amor” ao petista, mas “por ódio” a José Serra e ao PSDB. “Quem semeia ódio colhe tempestade”, alegou Martinez, ele próprio alvo de ataques recentes de Serra. “Quem semeia amor, colhe saudade”.
O PTB, junto com o PPS e o PDT formaram a Frente Trabalhista da candidatura de Ciro Gomes. Os outros dois partidos já se definiram pela campanha de Lula. No entanto, Martinez confirmou que o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson, recebeu telefonema do presidente Fernando Henrique Cardoso para agendar um encontro, cujo objetivo seria o de fazer uma aliança em torno de Serra.
Além do apoio do PTB, Lula também recebeu formalmente ontem o apoio do PSB que já havia sido prometido no dia anterior pelo presidente nacional da legenda, Miguel Arraes. Ao fechar questão, o PSB decidiu que punirá os dissidentes que apoiarem José Serra (PSDB) no segundo turno. Hoje a direção do PSB se reúne no Rio de Janeiro para definir as ações de campanha. Ainda não está decidido se Garotinho gravará uma participação no programa eleitoral de Lula na TV. Já se sabe que o ex-governador vai aparecer no programa de Tarso Genro (PT) no Rio Grande do Sul.
Quem também se manifestou de forma favorável a Lula, ontem, foi o deputado federal Delfim Netto (PPB-SP), reeleito para o quarto mandato após ter atuado como ministro em governos militares. Ele defendeu Lula dizendo no “site” oficial da campanha do PT que o candidato “fez o curso da social-democracia e mudou”. Esse novo PT, diz Delfim Netto, não recusa mais o capitalismo e, por isso, foi absorvido pelo processo político brasileiro. O parlamentar de direita não declara abertamente o voto em Lula, mas admite que o petista pode, sim, ter seu voto no segundo turno, desde que continue a afirmar alguns princípios econômicos como a manutenção do superávit primário.
Na opinião de Delfim Netto, a renovação do Congresso Nacional é bastante significativa e mostra que o eleitor está fazendo uma opção pela mudança. Para ele, o candidato do PT “está mobilizando o novo”, enquanto o candidato do PSDB, José Serra, “está mobilizando o velho”. “Sejamos francos: a população escolheu 91 deputados do PT. Isso não pode ser um acidente! As pessoas estão carentes de mudança. Estão carentes de futuro. Estão carentes de alguém que possa ser um estadista”, diz.
Para o pepebista, o PSDB de Fernando Henrique Cardoso “é uma falsa social-democracia”, pois não tem representantes da classe proletária. Delfim compara o PT com a social-democracia alemã.