A obesidade em crianças e adolescentes pode antecipar em até 20 anos o surgimento de doenças cardiovasculares, como enfarte e acidente vascular cerebral. A conclusão é de médicos do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), baseados na revisão de pesquisas realizadas sobre o assunto. A grande vilã é a aterosclerose, que se caracteriza pelo envelhecimento precoce das artérias. O processo resulta na perda da elasticidade e diminuição da espessura das artérias, o que provoca hipertensão. Em estágios avançados, pode levar à obstrução das vias de passagem do sangue, e, em consequência, ao enfarte ou AVC.
“Comparamos os índices em adultos saudáveis e com adolescentes e crianças acima do peso”, diz o cardiologista Wilson Salgado, médico assistente da unidade clínica do Incor. “O jovem obeso está com os mesmos índices de uma pessoa até 20 anos mais velha.” Ou seja, um adolescente de 15 anos acima do peso tem as artérias tão comprometidas como a de um homem de 35 anos. O processo ocorre pela falta de exercícios físicos e uma dieta rica em gorduras e pobre em fibras e ácidos graxos (como o Ômega 3), que reduzem o colesterol bom.
O médico Raul Dias dos Santos, do Incor, aponta outro problema causado pela obesidade: a síndrome metabólica, que resulta no aumento da pressão sanguínea, dos níveis de triglicérides e glicose no sangue. “A síndrome é uma bomba-relógio que pode causar precocemente o aparecimento de diabete e doenças do coração e dos vasos.” Médica e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia, Marcia de Castro Sebastião diz que os índices de obesidade em crianças e adolescentes têm aumentado – e hoje a doença atinge cerca de 30% dos jovens. Ela culpa os maus hábitos alimentares aliados à falta de exercício físico. “A maioria das crianças não toma café da manhã, vai para a escola e come frituras e bebe refrigerante.”
Ricos em gorduras e pobres em nutrientes, esses alimentos, assim como os doces, favorecem o ganho de peso. Vera Lúcia Barbosa, presidente do Instituto Movere, que atua na reeducação alimentar, diz que os pais contribuem para a má alimentação dos filhos. “Os pais não têm tempo para preparar um jantar adequado, daí apelam para o fast-food”.