Novo PT está afinado com o Planalto

  João de Noronha / GPP
João de Noronha / GPP

Raul Pont: ordem é amenizar as críticas.

São Paulo – Apesar do grande número de votos que as correntes de esquerda receberam, o PT saiu das eleições internas mais afinado com o governo. Segundo dirigentes do PT, três fatores contribuem para isso: a saída dos radicais que apoiaram a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio, a composição do diretório e da executiva nacionais, com maioria pró-governo, e, paradoxalmente, a própria ascensão das correntes de esquerda. "Não vamos mais jogar água no moinho da oposição. O partido agora tem mais autonomia em relação ao governo, mas ainda é o partido do presidente Lula. A partir do momento em que a esquerda divide o poder, divide as responsabilidades também", diz o secretário adjunto de organização, Francisco Campos.

O novo secretário-geral, Raul Pont, da corrente Democracia Socialista, afirma que a partir de agora, com mais espaço na direção do partido, a esquerda petista deve amenizar o tom das críticas ao governo. Segundo Pont, até então a esquerda forçava o tom apenas para marcar posição, já que era impossível dialogar com o antigo Campo Majoritário.

"É uma via de duas mãos. A partir de agora teremos espaço para dialogar. Antes era um processo de demarcação. Nossas propostas iam à votação pela impossibilidade de fazer resoluções conjuntas. O Campo Majoritário chegava com uma tese votada e não tinha diálogo algum – diz Pont, que foi o candidato a presidente do partido apoiado pelas correntes de esquerda, no segundo turno das eleições internas do PT, vencida pelo candidato do Campo Majoritário, Ricardo Berzoini.

Pont defende a abertura de um canal formal e permanente de diálogo com o governo para evitar que o partido seja surpreendido com propostas do Palácio do Planalto e tenha que impô-las às bancadas. A proposta conta com apoio de outras correntes. O canal serviria também para o partido encaminhar reivindicações de suas bases. "Agora mesmo queremos encaminhar demandas do movimento sindical em relação ao salário mínimo e à correção das alíquotas do Importo de Renda", diz Pont.

A deputada Maria do Rosário (RS), uma das vice-presidentes do PT e representante da corrente moderada Movimento PT, considerada o fiel da balança no equilíbrio de forças do partido, também defende o apoio ao governo. "O PT faz a sustentação do governo, mas tem que participar do debate sobre os rumos do País. Somos um partido com um amplo debate interno, mas sabemos que uma de nossas tarefas é sustentar o governo", diz ela. O Movimento PT ficou ainda com a disputada Secretaria de Organização, ocupada pelo mineiro Romênio Pereira.

Dirceu

Na disputa com o grupo do ex-ministro José Dirceu, o novo secretário de organização petista, Romênio Pereira, da corrente moderada Movimento PT, contou com o apoio do próprio presidente eleito, Ricardo Berzoini, mais próximo do governo Lula. Para alguns dirigentes, isso deixa o Movimento PT em dívida com a cúpula alinhada com o Palácio do Planalto.

"Sabemos que não haverá um alinhamento automático do Movimento PT conosco, mas eles nos devem essa. Duvido que eles nos deixem na mão em questões como a política econômica (principal alvo das críticas da esquerda)", diz um dirigente ligado ao antigo Campo Majoritário.

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