A descoberta de um planeta gêmeo a Júpiter, localizado na órbita de uma estrela gêmea ao nosso Sol, é a mais nova pista na busca de um sistema solar inteiro semelhante ao nosso e, quem sabe, da tão procurada Terra 2.0. O achado, capitaneado por astrônomos brasileiros, é particularmente promissor porque o novo planeta e a nova estrela não só se parecem fisicamente com Júpiter e o Sol – têm quase o mesmo tamanho e a mesma idade -, como eles estão também a uma distância entre si semelhante da que ocorre no nosso sistema solar.

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Isso é importante, explica Jorge Meléndez, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, principal autor do estudo, porque hoje se entende que Júpiter exerceu um papel fundamental para compor a arquitetura do sistema solar – com planetas menores e rochosos (como a Terra) em sua área interna e grandalhões gasosos na área externa (como Júpiter e Saturno).

Uma linha de pesquisas sugere que isso foi pode ter sido definido pela distância em que Júpiter se encontra do Sol, longe o bastante para atuar como uma espécie de barreira gravitacional, impedindo que outros planetas gigantes, como Netuno e Urano, migrassem para as regiões mais internas. Isso poderia ter levado a colisões com os planetas menores ou deixar suas órbitas instáveis. “Sem ele, a Terra poderia ter caído em direção ao Sol”, afirma Melendez.

Desde que começaram as buscas por exoplanetas, há cerca de dez anos, mais de mil planetas já foram encontrados pelo Universo afora – a maioria gigantes gasosos como este de agora. Mas quase sempre eles estão muito colados às suas estrelas. É a primeira vez que se encontra uma condição semelhante a do nosso sistema solar.

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Semelhanças

O novo planeta fica a 4,8 unidades astronômicas de sua estrela (1 UA é a distância da Terra ao Sol). Júpiter fica a 5,2 UA. A expectativa é de que haja em torno da nova estrela (apelidada de HIP 11915) um sistema solar com a arquitetura semelhante ao nosso. E se for mesmo assim, então é possível que também haja ali planetas menores e rochosos e até uma nova terrinha. Por enquanto, porém, só o gêmeo de Júpiter foi visualizado.

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A descoberta foi feita a partir de dados coletados pelo Caçador de Planeta de Alta Velocidade e Precisão (Harps, na sigla em inglês), considerado um dos instrumentos mais precisos para detectar exoplanetas e que está montado em um telescópio do Observatório Europeu Sul (ESO), no Chile.

As medições mostraram que a HIP 11915 também é muito semelhante ao Sol. A idade, por exemplo, é quase a mesma. Ela tem cerca de 4 bilhões de anos – o Sol tem 4,6 bi. Mais importante ainda, segundo Meléndez, é que ambas têm composições químicas muito parecidas.

Comparado com outras estrelas, o Sol tem uma deficiência de compostos como ferro, níquel, magnésio e cálcio. A teoria é que esses elementos foram usados para formar os planetas rochosos – eles são, por exemplo, abundantes na Terra. Com a HIP 11915 ocorre o mesmo, o que dá mais uma pista de que pode haver planetas rochosos em seu entorno. “E pela idade, se houver uma terra ali, houve tempo suficiente para a vida evoluir”, afirma o pesquisador.

A estrela deve agora ser alvo de novas pesquisas, mas ainda não existe uma ferramenta capaz de ver uma Terra 2.0. A tecnologia, porém, está avançando e se espera que seja possível em 10 anos. Quando isso for possível, o entorno da HIP 11915 é forte candidato.