As novas recomendações dos Estados Unidos para o rastreamento do câncer de mama não são consenso entre especialistas brasileiros. A orientação divulgada anteontem prevê mamografias a partir dos 50 anos – e não mais aos 40 – e realizadas a cada 2 anos (e não anualmente). No Brasil, o governo já adotava essa política. Mesmo assim, médicos do País ainda acreditam que a realização precoce do exame pode salvar vidas. O estudo norte-americano condenou ainda o autoexame das mamas – orientar a mulher a apalpar os seios em busca de nódulos – como método de rastreamento.
“Mesmo podendo resultar em procedimentos invasivos que detectem tumores que não afetarão a vida da paciente, a mamografia (precoce) ainda é a melhor opção”, diz o mastologista do Hospital Albert Einstein Silvio Bromberg. O especialista do Hospital Santa Catarina Isaac Fermann Neto acha que as medidas dos EUA são típicas de um país que pretende cortar gastos após uma recessão econômica. “É um país em crise com seu sistema de saúde.”
No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) recomenda, desde 2003, mamografias a partir dos 50 anos, realizadas a cada 2 anos. Países da Europa e o Canadá fazem o mesmo. “Os EUA fizeram uma revisão e agora se alinharam aos demais países”, diz a gerente da Divisão de Apoio à Rede Oncológica do Inca, Ana Ortigão Farias.
Especialistas
O mastologista do Hospital Sírio-Libanês Felipe Andrade discorda do estudo porque acredita que trabalhos que analisam a população em geral, direcionados a políticas públicas, levam mais em conta questões financeiras. “Eles seguem a linha ‘gastei muito para salvar poucas vidas'”, diz. “Mas temos de salvar o máximo que conseguirmos.” Segundo Ana, não há limitação à realização de mamografias em qualquer idade se o médico encontrar sinais e achar que o exame é necessário. A idade serve apenas para orientar a política pública de saúde.
O diretor clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Paulo Hoff, concorda com as novas orientações. Segundo ele, começar cedo os exames pode levar a efeitos colaterais e procedimentos cirúrgicos, como biópsias e perfurações, que implicam em riscos. O mastologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Luiz Henrique Gebrim diz que a mudança tem mais efeito nas políticas públicas. “As mulheres que não têm restrição de recursos devem continuar fazendo a mamografia (precocemente).”