São seis deputados federais jovens, com sobrenomes famosos, decididos a alcançar o estrelato na política e por essa razão fazem barulho infernal na principal comissão da Câmara Federal. Os deputados Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), 28 anos, Bruno Araújo (PSDB-PE), 35, Efraim Filho (DEM-PB), 28, Felipe Maia (DEM-RN), 34, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), 27, e Maurício Quintella Lessa (PR-AL), 36, já despertaram atenção no Congresso.
O grupo pode até não ser dos mais afinados, como mostraram as recentes disputas travadas na CCJ em torno da instalação da CPI do Apagão Aéreo. Afinal, apenas Maurício e Leonardo são governistas; os demais fazem oposição ao governo Lula, mas divergências partidárias à parte, os deputados reúnem tantas características em comum que são vistos como um verdadeiro conjunto.
Afinal, eles são jovens, ricos e poderosos, com grandes ambições políticas, vaidosos – não dispensam o gel no cabelo nem os ternos de corte moderno -, os seis também são herdeiros da ?velha guarda?, que há décadas conhece os caminhos do poder. O mais famoso deles, ACM Neto, traz no nome a referência ao avô senador, assim como Efraim, filho do também senador Efraim Moraes (DEM-PB). Tal como o colega paraibano, Felipe também estréia na Câmara sob o olhar atento do líder do DEM (novo nome do PFL) no Senado, José Agripino (RN), seu pai. Bruno, outro novato, é filho do ex-deputado estadual pernambucano Eduardo Araújo.
Foto: J. Batista/Agência Câmara |
Felipe: pai senador. |
Foto: Luis Alves/Agência Câmara |
Leonardo: pai deputado. |
Mais jovem presidente a assumir o comando da principal comissão da Casa, Leonardo aprendeu a fazer política com o pai, o deputado estadual Jorge Picciani (PMDB), presidente da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Maurício, o mais velho da turma, é primo do ex-governador de Alagoas Carlos Lessa.
Por herança ou mérito próprio, os seis começam a vida parlamentar em condição privilegiada, ocupando a mais cobiçada das comissões permanentes. Na CCJ, são analisados os aspectos constitucional, legal, jurídico, regimental e de técnica legislativa de todas as proposições que tramitam na Casa.
Em seus discursos, os menudos da Comissão de Constituição e Justiça, como eles também são conhecidos, usam e abusam de palavras de expressões como ?renovar?, ?imprimir novas discussões? e ?novas idéias?. Mas a letra, nesse caso, nem sempre casa com a música.
Além de ?inovar?, eles também querem dar ?continuidade? ao que classificam como ?bons serviços prestados? ao país por suas famílias, sempre apontadas como principal referência. No fundo, é como se quisessem lançar um CD acústico, com músicas para lá de conhecidas, mas com arranjos tinindo de novos. (Com informações de Congresso em Foco).
Oligarquias não entregam os pontos
Foto: Agência Câmara |
ACM Neto: filhote de cacique ameaça a democracia. |
Para o cientista político Alexandre Barros, a ascensão dos chamados menudos na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, como do neto do senador Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA), conhecido por ACM Neto (DEM-BA), significa a ?perpetuação de oligarquias políticas no Brasil? e uma ?ameaça à democracia?. Ele analisa: ?Isso é sinal de oligarquia, é sinal de que se está diminuindo o valor do processo democrático. As chances de esses políticos serem eleitos são maiores do que as do cidadão comum, porque eles aprendem cedo a fazer política, além de carregarem um sobrenome importante no meio político?.
A manutenção do poder de família de políticos tradicionais não é apenas um fenômeno brasileiro. Nos Estados Unidos, por exemplo, o presidente George W. Bush é filho de um ex-presidente da República e irmão do governador Jebb Bush.
?Quando gente jovem vinda de família de tradição política torna-se eminente no meio político, é uma luz amarela, bem brilhante, que se acende, sobretudo se rapidamente passar a integrar uma comissão que, tradicionalmente, era de deputado sênior?, avalia Barros. O cientista político conclui: ?Nenhum problema quanto ao poder dos jovens, mas no caso do PFL (rebatizado de DEM), por exemplo, está se reestruturando com caras novas, mas são todos filhotes dos caciques?. (Com informações de Congresso em Foco).
Na hora de pedir voto, fica mais fácil
Foto: Gilberto Nascimento/Agência Câmara |
Câmara Federal: sobrenomes se perpetuam no Congresso. |
Os herdeiros políticos da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara reconhecem que, na hora de pedir voto, ter um sobrenome de peso faz diferença. Apesar disso, tentam fugir de rótulos. Efraim Filho faz trocadilho com o próprio nome para explicar suas diferenças com o pai senador. ?Há muita diferença entre ser Efraim Filho e ser filho do Efraim?, filosofa o deputado. ?É uma grande honra ser filho do Efraim, porque acho que, de certa maneira, atesta que tenho princípios. Mas jamais serei refém de um sobrenome?, garante.
O paraibano completa a reflexão: ?Não me sinto discriminado, mas é claro que há questionamentos sobre a minha capacidade. Um sobrenome ajuda, mas faz com que soframos mais cobranças. As pessoas esperam que um deputado de primeiro mandato, como eu, tenha a mesma desenvoltura de um senador [refere-se ao pai] que tem 24 anos de política?.
Para Efraim Filho, a indicação para a CCJ não se deve à influência do pai, mas à sua formação acadêmica. ?O meu partido me indicou para a CCJ porque considerou meus títulos acadêmicos, sou advogado.?
O deputado Bruno Araújo justifica da mesma forma sua presença na CCJ. ?O Congresso não é lugar para generalistas. Como sou da área jurídica, isso contribuiu para que o partido me indicasse para a vaga. Não há influência do meu pai na composição. Ele foi deputado estadual, mas nunca teve qualquer relação com o Congresso, mas, se tivesse, para mim seria uma honra.?
Bruno é cauteloso ao falar sobre o desempenho político da nova geração. ?Só o tempo vai mostrar se essa geração fez ou não um bom trabalho. Estamos ainda na fase da torcida?, afirma o deputado, que foi chefe de gabinete do próprio pai na Assembléia Legislativa de Pernambuco.
Não por acaso, quatro dos seis menudos são filiados ao Democratas, novo nome do PFL, que, desde o último dia 28, tem o jovem deputado Rodrigo Maia, de 36 anos, como presidente. ACM Neto é um dos vices. Efraim Filho e Felipe Maia também fazem parte do comando da legenda.