Em um poste na frente da sede do Detran Armênia, no centro da capital, a mensagem: “Habilitação suspensa? Resolvo!”. Não são poucos os pontos da cidade onde cartazes com conteúdo similar se repetem. Acompanhados de número de telefone, os textos são curtos, mas chamam a atenção pela promessa. Afinal, como fazer para os pontos resultantes de infrações sumirem da carteira de habilitação?

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No primeiro telefonema, a forma como isso é feito não é revelada, mas o resultado, segundo a atendente, é garantido. “A gente limpa os pontos da carteira. Venha pessoalmente que explicamos como fazemos”, disse uma funcionária contatada nesta semana pela reportagem, que não se identificou.

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Ao primeiro sinal de suspeita quanto ao serviço, o funcionário de outro serviço anunciado nas ruas fala em legalidade. “Tudo é oficial, inclusive você pode ir checando no sistema do Detran. Estamos no mercado há 19 anos, com CNPJ”, disse o homem que atende em uma sala na Avenida Paulista. Para impedir a suspensão da carteira diante de um número de pontos além do permitido, cobra até R$ 1,5 mil.

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Para o presidente da Comissão de Direito Viário da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Maurício Januzzi, a prática pode mascarar até mesmo crimes. “Se há, por exemplo, transferência de pontos para a carteira de uma pessoa que de fato não foi a que sofreu a multa, isso é ilegal, é crime de falsidade ideológica”, afirmou. “São serviços que não me parecem legítimos, e a pessoa ao procurar tem de ter ciência disso e arcar com a responsabilidade.”

Quanto ao envolvimento de advogados em serviços na área, Januzzi recomendou averiguar a inscrição na Ordem de quem oferece o serviço. “É bom saber se o profissional já lidava com isso anteriormente.”

O presidente da comissão comentou ainda a publicidade feita pelas empresas especializadas para captar clientes. “Publicidade no Facebook não pode ser feita. Tem de ser denunciado e será avaliado pela Comissão de Ética se aquilo é adequado ou não.”

Com propagandas na rede social, a equipe do Doutor Multas disse não enxergar conflitos éticos na prática. “Como nos restringimos à esfera administrativa, nunca tivemos problemas em relação a isso. Buscamos contato a partir da geração de informação”, disse o advogado Rodrigo Lopes Gonzalez. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.