Após seis horas de sabatina, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou, na madrugada de ontem, o nome do executivo Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Os membros da comissão endossaram a indicação por 21 votos favoráveis. Houve cinco contrários. Ontem, a nomeação também foi referendada pelo plenário do Senado.
Meirelles revelou aos senadores que, basicamente, manterá as políticas do atual presidente do BC, Armínio Fraga, com ênfase na estabilidade dos preços. Num dos mais importantes momentos da longa sabatina, Meirelles defendeu a manutenção das metas de inflação acertadas entre o Brasil e o Fundo Monetário Internacional (FMI).Meirelles destacou prioridades para o papel do BC no contexto econômico do País, apontando a conquista da estabilidade financeira do governo de Fernando Henrique Cardoso como uma meta a ser mantida no próximo governo.
Outros objetivos a serem perseguidos, além da manutenção da inflação em baixos índices, segundo Meirelles, referem-se à ampliação da taxa de poupança interna, visando a estimular a produção privada e a geração de empregos.
Ex-presidente mundial do BankBoston e candidato que recebeu o maior número de votos pelo Estado de Goiás para deputado federal nas últimas eleições, Meirelles também enfatizou que a estabilidade econômica e o sucesso do próximo governo dependem do combate implacável à inflação. “Lula e eu já fomos dissidentes em vários assuntos, mas essa questão no Brasil nos aproximou”, disse, acrescentando que a longa história de inflação do País é responsável pelas altas taxas de juros que elevam o risco-País e comprometem também o regime cambial. O executivo afirmou que a pressão sobre as taxas de juros é exercida pela falta de credibilidade do Brasil no exterior. Meirelles disse que os juros poderiam baixar de acordo com a manutenção dos índices de superávit primário e das oscilações do “spread bancário”.
Em outro ponto de destaque da sabatina, Meirelles também sugeriu uma autonomia para o BC, inclusive com a transformação da presidência da instituição em um cargo fixo. Isso acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, onde Alan Greenspan preside o Federal Reserve há quase duas décadas.
Posicionamentos
A bancada do PT na Câmara reagiu negativamente às declarações feitas por Meirelles na sabatina. Deputados de diferentes correntes questionaram o anúncio de que o governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, defenderá a autonomia operacional do BC, o que significa mandatos fixos para a diretoria do banco. Parlamentares argumentaram que a questão não consta do programa de governo do partido e precisa ser debatida na bancada. A reunião dos deputados da legenda para formalizar a indicação do líder na Câmara, João Paulo Cunha (SP), para ser o presidente da Casa se transformou numa sessão de reclamações na manhã de ontem. Parlamentares de correntes mais à esquerda da sigla também questionaram a declaração de Meirelles de que o governo Lula aumentará a meta de superávit primário e manterá a política atual adotada pelo presidente do BC, Armínio Fraga. “Dar autonomia ao Banco Central é abrir mão da política econômica. Essa questão não é simples e exige uma discussão ampla no partido”, afirmou o deputado eleito Lindberg Farias (PT-RJ), da corrente mais radical da agremiação.
Em resposta à insatisfação dos deputados, o futuro ministro da Casa Civil, deputado reeleito José Dirceu (SP), recomendou que a bancada chamasse o futuro ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, para discutir o assunto. O presidente nacional do PT, deputado José Genoino (SP), relatou que o presidente eleito considerou que foi acertada a escolha do presidente indicado do BC, durante encontro na residência oficial do Torto, ontem, para avaliar a composição do futuro governo. Genoino considerou o desempenho de Meirelles na sabatina do Senado “boa”. Segundo o presidente nacional do PT, foi um debate transparente, sem combinações e no qual o presidente indicado respondeu bem às questões. “Ele (Lula) está convencido de que a indicação de Meirelles para o Banco Central foi a melhor solução”, afirmou Genoino, referindo-se à opinião de Lula a respeito da atuação de Meirelles na sabatina.
O líder do PSDB no Senado, Geraldo Melo (RN), disse que o posicionamento de Meirelles durante a sabatina é uma revelação clara de que a política econômica do atual governo está correta. “A escolha do presidente do BC feita pelo PT mostra que a política adotada pelo PSDB estava correta durante todo esse período.” Ainda segundo Melo, Meirelles é um homem “de inegável preparo”.