Brasília – Depois de ficar sem a presidência da Câmara dos Deputados, o governo sofreu ontem mais uma derrota. O PMDB decidiu destituir seu líder de bancada, deputado José Borba (PR), e indicar para o posto o deputado Saraiva Felipe (MG), que tem o apoio do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, do presidente do partido, Michel Temer, e da ala oposicionista do partido. Saraiva e Temer protocolaram no início da tarde de ontem, na mesa diretora da Câmara, uma lista com 48 assinaturas, de um total de 87 deputados da bancada, tirando Borba da liderança.
A decisão do partido invalida a recondução de Borba, que havia sido encaminhada à mesa da Câmara em dezembro com 44 assinaturas de uma bancada que então tinha 76 deputados. O futuro líder do PMDB afirmou que fará uma liderança sem subordinação ao Palácio do Planalto ou a membros do Executivo, ainda que sejam de seu partido, mas frisou que não será líder de oposição. Saraiva prometeu ter uma postura de diálogo com o governo.
A articulação política do governo na Câmara sai enfraquecida com a substituição de Borba. Tentando evitar este resultado, os ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política), Eunício Oliveira (Comunicações) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) chegaram a se envolver no processo eleitoral. Na madrugada de sábado, Eunício participou de uma reunião de governistas na casa do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA). Domingo à noite, Eunício voltou à casa de Barbalho, mas desta vez acompanhado de Aldo e Campos.
Além disso, o Palácio do Planalto corre o risco de perder o apoio da maioria do PMDB na Câmara. A ala oposicionista do partido está levando vantagem na disputa pelo controle da bancada. A primeira derrota do grupo governista ocorreu segunda-feira de manhã, quando o candidato de Borba para concorrer a um outro cargo na mesa, Henrique Eduardo Alves (RN), perdeu a indicação para o deputado Waldemir Moka (MT), apoiado pelos que defendem o afastamento do partido do governo.
Moka, ex-presidente da Comissão de Agricultura e ligado à bancada ruralista, foi escolhido por 54 votos a 31 para ser o candidato da bancada do PMDB à primeira secretaria da Câmara, o cargo mais importante depois da presidência, conhecido como a prefeitura da Casa.
Com o risco de serem ultrapassados em número de deputados pelo PMDB (o PT tem 90 deputados, o PMDB, 87), os petistas já planejavam formar um bloco com outros partidos (PCdoB ou PL, provavelmente) para não perder o direito de comandar a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Casa. O prazo para formação de blocos acabou segunda-feira à meia-noite.