Lula e Serra: tucano não tem mais
munição para reduzir a grande diferença.

São Paulo – As mais recentes pesquisas Datafolha e Sensus sobre as intenções de voto, que já captaram os efeitos da propaganda no rádio e na televisão, mostram que é improvável a reversão do quadro eleitoral. A avaliação é da analista de pesquisas eleitorais Fátima Pacheco Jordão, consultora do Grupo Estado. Ela diz que os resultados das duas pesquisas são equivalentes, dando ao petista Luiz Inácio Lula da Silva 66% de votos válidos contra 34% de José Serra.

“Outro fator de estabilidade é que 90% dos eleitores de Lula se dizem totalmente decididos”, explica Fátima. Segundo a analista, a comunicação de Serra perdeu o prumo estratégico com as reações à “fala do medo” de Regina Duarte, que desfocou o debate da comparação entre candidatos e programas. O clima de que as eleições estão decididas se reflete até no exterior. O influente Financial Times publicou na edição de ontem, em Londres, que Lula deverá ser eleito com o dobro da votação de Serra. E o clima de que não há nada mais a fazer tomou conta até mesmo do comitê tucano. Não há quem ainda acredite na virada. Em vez da emoção das disputas acirradas, os últimos lances da campanha presidencial devem antecipar a reacomodação de forças dos dois lados.

Na prática, o governo do PT começa agora, assim como os próximos seis dias vão definir os destinos futuros do PSDB. Lula toma muito cuidado para não sentar-se na cadeira antes da hora, mas está com discurso de presidente eleito. O comando da campanha petista acha que venceu os últimos obstáculos e o quadro não muda mais. Seus integrantes respiram aliviados depois do pronunciamento de Serra de domingo. O tucano bateu forte na tecla do medo, mas não baixou o nível e nem agregou nada novo ao debate. Ao mesmo tempo, as pesquisas mostram larga distância entre os dois.

A ordem no PT agora, portanto, é cuidar do futuro governo. Lula e companhia discutem os nomes da transição, que devem incluir representantes de outros partidos e forças, e do futuro Ministério. Estudam, sobretudo, as primeiras medidas a serem anunciadas a partir desta segunda-feira. E já começaram a ampliar as conversas da governabilidade.

Serra não é homem de jogar a toalha e vai lutar até o fim, sem admitir a derrota. Exerce seu direito legítimo de criticar o adversário e alertar para o que acha que pode acontecer. Deve ir ao debate de sexta-feira com postura de quem ainda acredita que pode vencer. Mas seus aliados já admitem que não vira mais o jogo, nem que Lula diga uma grande bobagem na TV Globo. Simplesmente porque não haverá mais tempo para que se propague qualquer versão.

Resta o barulho no horário gratuito: neste a campanha sobrevive. Serra acusa Lula e o PT de, se eleitos, levarem o País à “ruína”. Serra apontou que “Lula diz ao povo que mudará, mas afirma o oposto aos empresários e ainda promete que aumentará o salário do funcionalismo público, mas, ao FMI, diz que cumprirá a Lei de Responsabilidade Fiscal”. “Tal número de compromissos terão como conseqüência a inevitável volta da hiperinflação”, destacou.

O tiroteio é respondido pelo PT. O presidente nacional do PT, José Dirceu, diz que a campanha de Serra, “é negativista, não fez efeito no primeiro turno e não fará no segundo”. Lula, por sua vez, comparou os métodos de Serra com os métodos da Aliança Renovadora Nacional (Arena) na época da ditadura militar.

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