O ministro da Defesa, Nelson Jobim, ameaçou demitir o comandante do Exército, general Enzo Peri, e todos os generais do Alto Comando que se juntassem em um ato de contestação da autoridade dele. A ameaça, explícita, foi feita na sexta-feira (31), em Brasília, e compôs um cenário de crise em que Jobim e o Exército mediram a força política de cada uma das partes, no rastro da solenidade de lançamento do livro "Direito à Memória e à Verdade", dois dias antes, no Palácio do Planalto.
A reportagem apurou que o recado da demissão chegou ao Quartel-General, em Brasília, no fim da manhã de sexta-feira, momentos antes do início da reunião extraordinária do Alto Comando Exército. A ameaça foi feita por telefone, repassada por um assessor civil de Jobim. O encontro foi convocado por Peri para definir os termos de uma nota oficial da Força ("Informativos do Exército"), que responderia a outra ameaça de Jobim, feita no dia do lançamento do livro, editado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, sobre os mortos e desaparecidos durante o regime militar (1964-1985).
Ao fim da reunião, depois de muita discussão entre os militares, os generais resolveram, por unanimidade, emitir uma nota na sua versão mais light e respeitosa, mas apresentando a posição da Força. O objetivo era de mostrar que eles podiam sim responder a Jobim. Por volta das 19 horas, com a nota na mão, o comandante do Exército apresentou-a ao ministro. Jobim considerou-a ?aceitável? e apenas trocou o tempo de um verbo do presente para o passado.