O músico Paulo Sérgio dos Santos Dias, de 21 anos, o Paulo Negueba, da banda O Rappa, foi recebido com batucada, coral e bolo de banana na tarde de hoje, ao voltar a Vigário Geral para uma visita,  quase um mês depois de ser baleado na perna direita, em operação da Polícia Militar na favela onde morava. Negueba, que deixou o hospital na quinta-feira, não voltará a viver em Vigário Geral, mas garantiu que continuará a coordenar o grupo de percussão  Afro Reggae, composto por jovens de 14 a 19 anos da comunidade. Ele ainda não decidiu para onde se mudará.

Ainda sem poder andar e com um aparato metálico preso à perna ferida, o músico foi levado em cadeira de rodas pelas vielas de terra até o Centro Cultural Vigário Gegal, onde dá aulas. Ele ficou emocionado ao ver e ouvir a apresentação dos adolescentes, que o receberam na porta, com instrumentos de bateria improvisados, como latas de lixo, galões de plástico, panelas e bujões de gás. ?Estava ansioso para vir aqui, com muita saudade. Só Deus sabe como estou feliz de estar aqui, para receber essa energia dos meninos?, disse o músico.

Negueba participou do espetáculo de seus pupilos. Sentado – com a perna direita ainda bastante inchada estendida sobre um banco -, tomou um tambor e acompanhou o grupo, ao mesmo tempo em que comandava a bateria do Afro Reggae. Em seguida, regeu o Coral de Idosos da Casa Santa Ana, da Cidade de Deus, onde também promove trabalho social e ganhou um bolo de banana.

O músico disse durante entrevista que o incidente não mudou nada em sua vida, só o fez ?acreditar mais na violência?. Ele evitou, entretanto, falar sobre o fato de ter sido atingido por um tiro da Polícia Militar. A ação frustrada resultou na morte de uma pessoa e na exoneração do comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), coronel Venâncio Moura.

?Não guardo mágoa de ninguém: estou bem e agradeço por ter sobrevivido. Meu negócio é paz e cultura.?

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