Depois de um mês de negociações fracassadas, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva decidiu excluir o PMDB do ministério, que será anunciado na íntegra na próxima segunda-feira. A informação foi dada ontem pelo futuro ministro da Casa Civil, José Dirceu.
“Apesar dos meus esforços e os do presidente do PMDB, deputado Michel Temer, não foi possível um acordo. Após o período de festas retomaremos as relações políticas e institucionais com o PMDB”, afirmou Dirceu. O futuro ministro, que anteontem havia dito que os partidos tinham chegado a um acordo, se negou a dar detalhes sobre os motivos que levaram Lula a tomar a decisão. Mas segundo dois dirigentes petistas, Lula avaliou que ninguém no partido, nem o presidente Temer, tem condições de oferecer garantias de que o PMDB apoiará o futuro governo no Congresso em troca de dois ministérios. “Corremos o risco de arcar com o ônus sem levar o bônus”, disse um cardeal petista. “O PMDB não tem um organismo hoje onde os líderes podem sentar para conversar. O partido vive uma crise de liderança. Quando essa crise passar, daqui uns meses, e uma nova liderança emergir, podemos voltar a negociar”, comentou outro alto dirigente petista.De acordo com os petistas, a fragmentação e a falta de entendimento interno do PMDB inviabilizaram o acordo. “Eles não se entenderam sobre nenhum nome. Cada um que era apresentado, a ala oposta dizia que não concordava e que uma possível nomeação entraria na cota pessoal de Lula e não na do partido. A gota d? água foi o Pedro Simon (cotado para o Ministério das Minas e Energia). Depois de que quase todo mundo tinha aceitado, um líder disse que ele não representa o PMDB”, informou um dirigente petista.
O PT está ciente de que o PMDB, com suas grandes bancadas na Câmara e no Senado, é fundamental para garantir a governabilidade de Lula. A saída, segundo os petistas, será negociar o apoio dos parlamentares peemedebistas estado por estado. “Quando acontecem essas crises de liderança, é natural aflorarem as lideranças regionais. Dá mais trabalho negociar assim, mas também é mais seguro”, comentou um petista.
Negociação
Questionado sobre o risco de Lula ter que passar quatro anos negociando o apoio dos peemedebistas no varejo, o presidente do PT, José Genoino, respondeu: “O PMDB fazia parte do governo Fernando Henrique Cardoso e ainda assim o presidente tinha que negociar no varejo.”
Segundo Genoino, a exclusão do PMDB do ministério não representa risco à governabilidade e nem prejudica o acordo com o PT no qual o partido do presidente eleito ficaria com a presidência da Câmara e os peemedebistas com o Senado. Apesar da decisão de Lula, o presidente do PT se mostrou otimista com a possibilidade de o PMDB vir a integrar o futuro governo mais adiante. “Temos uma base sólida com as bancadas dos partidos que apoiaram Lula na eleição. Em primeiro lugar tem esse acordo para eleger as presidências no Congresso e, em segundo, nós também temos um bom relacionamento com governadores, deputados e a direção do partido” afirmou Genoino.
Desautorização
Para o PMDB, a decisão de Lula significa uma “desautorização” de José Dirceu, uma vez que, na tarde de quinta-feira, o futuro Chefe da Casa Civil falava em “proposta comum” – dele próprio e de Temer. Essa proposta previa a oferta de pelo menos quatro nomes de peemedebistas para o ministério: Pedro Simon e Hélio Costa para o de Minas e Energia; e Eunicio Oliveira e Renato Viana, para o da Integração Nacional. “O problema deles é estrutural. A resistência interna não foi removida, pois do lado de cá não houve problemas. Ou alguém vai dizer que Pedro Simon não é aceitável”, criticou um pe-emedebista.