Foto: Ciciro Back |
Silas Rondeau: acusado de receber R$ 100 mil de propina. |
Brasília – O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, entregou carta de demissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na noite de ontem. Rondeau havia se reunido com Lula à tarde, mas o encontro foi interrompido sem que uma solução sobre o futuro do ministro no cargo fosse anunciada. Antes do encontro com Rondeau, Lula teria se reunido com o senador José Sarney (PMDB-AP) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) – padrinhos da indicação de Rondeau para o cargo. Rondeau é apontado pela Polícia Federal como suspeito de ter recebido, no ministério, R$ 100 mil de propina do empresário Zuleido Veras, dono da Construtora Gautama.
Zuleido foi preso com outras 46 pessoas na semana passada pela Operação Navalha da Polícia Federal, todos sob a acusação de organizar uma máfia que fraudava licitações de programas governamentais, como o Luz para Todos. O grupo se preparava, agora, para atacar também os empreendimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a menina-dos-olhos do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Antes mesmo de ter uma definição sobre o destino do ministro, o governo já discutia com o PMDB possíveis sucessores para o cargo. Em encontro com Lula, Sarney apresentou duas indicações. A primeira delas é de José Antônio Muniz Lopes, que já foi presidente da Eletronorte e atualmente está na iniciativa privada. A outra indicação de Sarney é de Astrogildo Quental, que foi diretor financeiro da Eletronorte.
No Ministério de Minas e Energia a situação de Rondeau era considerada ?crítica? porque as provas da PF sobre o envolvimento do assessor especial Ivo Almeida Costa são consideradas ?consistentes? e ?demolidoras?. O envolvimento de Ivo, que trabalha há mais de uma década na condição de homem de confiança de Rondeau, com o lobista da Gautama, Sérgio Sá, é considerado comprometedor.
Nas gravações, Sérgio Sá presta contas ao empreiteiro Zuleido Veras de assuntos tratados com assessores do ministério, que, depois, são confirmados por escutas telefônicas, documentos, fotos e movimentações financeiras. Segundo fontes da PF, é improvável que Sérgio Sá estivesse blefando e usando o nome do ministro para se promover e mostrar serviço.
Clã Sarney
Silas Rondeau Cavalcante Silva chegou ao ministério de Minas e Energia por conta da fidelidade a José Sarney. Além de grande conhecedor de sua área, sempre foi visto como um curinga importante nos movimentos de do ex-presidente. A proximidade com o clã Sarney o levou ao Maranhão, na campanha de 2006, para inaugurar um projeto do Luz para Todos. Repetiu a dose no Amapá, onde a vitória de Sarney parecia ameaçada. Sua escolha foi, ela própria, uma clara recompensa a Sarney: na ocasião, o ex-presidente não havia conseguido emplacar no ministério, como prometido, a ex-governadora Roseana Sarney.
Câmara quer acesso a inquérito da Navalha
Brasília (AE) – A Câmara decidiu requisitar o inquérito da Operação Navalha, deflagrada pela Polícia Federal. A decisão foi tomada ontem, em reunião do presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e os líderes dos partidos políticos. Eles argumentam que é importante esclarecer se há ou não envolvimento de parlamentares no esquema de recebimento de propina para beneficiar a empreiteira Gautama, em licitações de obras públicas. ?Essa é uma função constitucional do Legislativo: fiscalizar?, argumentou o líder do PDT, Miro Teixeira (RJ), que chegou à reunião propondo a requisição dos documentos.
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) informou que os documentos sigilosos serão avaliados por uma comissão suprapartidária. ?A Câmara vai fazer uma análise imediata, não para acobertar eventuais envolvidos, mas para dar o encaminhamento necessário?, afirmou.
Para o líder do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE), é importante a análise dos documentos para que o Congresso não fique à margem das investigações.
A criação de uma CPI para investigar essa questão também foi debatida. PPS, PSOL e PSDB defenderam a instalação da CPI, mas outros líderes foram contra. ?O que a CPI vai fazer que o Ministério Público e a Polícia Federal não fizeram? A CPI, nesse caso, não traz nenhum benefício?, afirmou o líder do PR, Luciano Castro (RR). A discussão sobre a Operação Navalha tomou grande parte das três horas e meia de reunião.
Reforma política
Os líderes decidiram também votar nesta semana a proposta de emenda constitucional que acaba com o voto secreto no Poder Legislativo. A proposta já foi aprovada em primeiro turno no ano passado, mas sua votação tem sido adiada sistematicamente nos últimos meses. ?Acabar com o voto secreto é uma garantia para o futuro, no caso de processos disciplinares?, afirmou Alencar.
Os líderes também decidiram discutir e votar, separadamente, cada ponto da reforma política. Eles chegaram à conclusão de que existem inúmeras divergências, mesmo dentro de suas próprias bancadas. ?O deputado raciocina, no caso da reforma política, sobre a sua próxima eleição?, disse José Múcio, demonstrando a dificuldade de consenso.