Não há sobreviventes do vôo da Gol

Foto: FAB

Boeing da Gol caiu em local de difícil acesso na floresta amazônica.

Às 9 horas de ontem, exatas 16 horas depois da queda do Boeing 737-800 da Gol, que fazia o vôo 1907, a Força Aérea Brasileira (FAB) anunciou que havia localizado os destroços do avião. Uma hora depois de achar o local exato da maior tragédia da aviação civil brasileira, a Infraero também anunciava que ?não havia indícios de sobreviventes?. O brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero, foi taxativo: ?Não há chance de haver sobreviventes.?

Parte do avião se desintegrou no ar e parte mergulhou em uma queda vertical que provoca grande impacto ao chegar ao solo. Foram essas informações que levaram a Infraero a duvidar da existência de sobreviventes. No final da tarde de ontem, outro brigadeiro, Antônio Gomes Leite, e o diretor-geral da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, reforçaram a improbabilidade de haver sobreviventes. ?Esperança sempre existe, mas é evidente que neste tipo de acidente há muito poucas possibilidades de haver sobreviventes?, disse Zuanazzi.

Destroços

Os destroços do Boeing, que caiu às 17 horas de sexta-feira e transportava 149 passageiros e seis tripulantes, estão na reserva indígena Capoto Jarinã, no Alto Xingu. É uma região de mata densa e de difícil acesso entre os municípios de Matupá e Peixoto de Azevedo, em Mato Grosso, divisa com o Pará.

Segundo as primeiras apurações da Infraero e da FAB, o avião da Gol foi mesmo derrubado pelo jato executivo Legacy, da Embraer, que seguia de São José dos Campos em direção a Manaus, devendo depois rumar para os EUA. O Legacy conseguiu pousar, com sete pessoas a bordo. ?Ninguém acredita que conseguimos sobreviver a uma colisão aérea?, disse o repórter do jornal The New York Times, Joe Sharkey, que estava a bordo do jato executivo.

Na manhã de ontem, a FAB interditou o tráfego aéreo da região em um raio de 50 milhas -aeronaves foram proibidas de sobrevoar a região abaixo de 8 mil pés de altura (2.424 metros). Logo em seguida, cem militares especializados em socorro e resgate chegaram ao local do acidente em cinco helicópteros e três aviões espiões R-99 equipados com radares e sensores especiais para localizar objetos no solo. Numa autêntica operação de guerra, três dos helicópteros tentaram descer militares na selva com a ajuda de cordas, mas foi impossível. O jeito foi pousar em uma clareira e caminhar por mais de quatro horas até os destroços do Boeing. Esses militares vão comandar o reinício da operação de resgate na manhã de hoje.

Investigação

Índios caiapó e panarás, das aldeias Capoto e Metrutiri, estão ajudando os militares na operação de resgate. Cinco especialistas em segurança de vôo da Anac também foram para a área, tentando descobrir por que dois aviões modernos voavam na mesma altitude e como seus instrumentos anticolisão não impediram o acidente. Apesar das avarias, o Legacy pousou no Campo de Provas Brigadeiro Velloso, no município de Cachimbo, sul do Pará. O jato havia saído às 14h15 de ontem de São José dos Campos. Era seu primeiro vôo e seria entregue à empresa norte-americana de táxi aéreo Excell Air.

Paranaense está entre passageiros do avião

Diogo Dreyer

Ao menos uma paranaense estava no Boeing 737-800 da Gol que caiu na sexta-feira no norte de Mato Grosso. A médica ginecologista Keila Bressan, de 31 anos, nascida em Cornélio Procópio, no Norte Pioneiro, está entre os passageiros do vôo 1907. Keila morava há um ano em Manaus e viajava com o noivo e com a sogra para participar de um casamento no Rio de Janeiro, neste final de semana. Na seqüência, ela passaria uma semana de férias com a família, em Cornélio Procópio. Parentes da médica foram ao Rio de Janeiro em busca de mais informações. Durante o dia surgiu a informação de que um dos tripulantes, o comissário de bordo Rodrigo de Paula Lima, seria morador de Colombo, mas até o fechamento dessa edição a informação não foi confirmada pela companhia aérea.

Piloto do Legacy alterou rota sem autorização

O piloto do Legacy não tinha autorização do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta) 1 – responsável pelo monitoramento do vôo do Legacy, que saiu de São José dos Campos e ia em direção ao norte do país – para alterar seu nível de vôo. Ao perceberem que a aeronave estava em rota de colisão com o Boeing 737-800 da Gol, os controladores ainda tentaram, sem sucesso, alertar o comandante do jato para que ele voltasse ao plano de vôo original.

?Os registros dos radares mostram que essa situação se prolongou até o momento da colisão?, revela uma fonte da Aeronáutica. Na avaliação dela, o comandante do Legacy deve ter mudado de altitude devido a uma forte turbulência. ?Ele até poderia ter feito isso, mas precisaria antes ter comunicado o controle de tráfego aéreo. Se ele pediu autorização, é certo que não houve retorno dos controladores?, afirma.

Técnicos da Aeronáutica já recolheram as fitas com as conversas entre os controladores de vôo e os pilotos das aeronaves. Os dados registrados pelos radares da Força Aérea também já foram coletados pelos militares do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa). Eles também já apanharam os dados das chamadas caixas-pretas do Legacy – a de voz e a que grava os dados técnicos do vôo. Falta apenas achar as caixas do Boeing 737-800. ?Todos os dados de que dispomos apontam para o erro do comandante do Legacy. Esse parece o caminho certo?, disse outro oficial da Aeronáutica. As investigações podem durar até três meses para serem concluídas. (AE)

 

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