Enquanto alguns especialistas em educação destacam a importância de debater a identidade de gênero nas escolas, outros acreditam que o currículo deve focar em conteúdos “essenciais”. Já grupos religiosos veem uma ameaça à família.

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O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), mandou recolher nesta terça-feira, 3, material didático de Ciências para adolescentes de 13 anos da rede paulista que, segundo ele, fazia apologia à “ideologia de gênero”. A apostila tratava de diversidade sexual e explicava termos como “transgênero” e “bissexual”. Também na terça, o presidente Jair Bolsonaro disse ter determinado ao Ministério da Educação (MEC) que elabore um projeto de lei contra a “ideologia de gênero” no ensino fundamental, que atende jovens de 6 a 14 anos.

Segundo a presidente executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, a identidade de gênero faz parte da rotina jovem e é importante “abrir espaço para esse tipo de debate”. Para ela, a grande dificuldade é preparar os professores. “Não é a mesma coisa que ensinar equação do segundo grau. É preciso ter apuro pedagógico.” Por isso, ela diz compreender o receio de algumas famílias de que a discussão seja feita de modo exagerado e “passe dos limites do que é esperado da escola e tenha colisão com os valores que elas acreditam”. Esse exagero também é temido por movimentos como o Escola sem Partido.

Para Claudia Costin, pesquisadora da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-diretora do Banco Mundial, “informar que isso (identidade de gênero) existe é, sim, papel da educação” e recolher livros seria algo “no extremo”. Segundo ela, países como Inglaterra e França também incluem a identidade de gênero na educação de seus jovens.

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Já o ex-secretário executivo do MEC João Batista Araújo e Oliveira tem dúvidas sobre a necessidade dessa elaboração nos colégios. “O currículo e o livro didático deveriam se concentrar em questões essenciais para a formação das pessoas, isso deveria estar definido em currículo. Se bem feito, dificilmente incluiria essas questões.”

Religião

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A bancada evangélica, por sua vez, celebrou a proposta de Bolsonaro. “Parabéns. Essa questão de gênero já foi derrotada pelo Congresso em 2013”, afirmou um dos líderes do grupo, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ). Durante a Marcha para Jesus em Brasília, no dia 10, o presidente ressaltou que ideologia de gênero “é coisa do capeta”. “Família é homem e mulher.” Da mesma forma, desde os anos 1990 a Igreja Católica critica essa linha. Neste ano pela primeira vez o Vaticano lançou texto a respeito: “Homem e Mulher os Criou”. Já o papa Francisco ligou a defesa do termo à “guerra global” contra a família. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.