Não falta transparência sobre voo 447, diz ministro

O ministro francês da Cooperação e Francofonia, Alain Joyandet, negou falta de transparência nas investigações sobre o acidente do voo 447 da Air France, assim como a tentativa de culpar os pilotos, como foi denunciado por sindicatos de pilotos na França. Em visita ao Rio para inaugurar um memorial em homenagem às vitimas, o ministro afirmou que a nova operação de busca das caixas pretas na região do Oceano Atlântico onde foram encontrados destroços e alguns dos corpos dos 228 passageiros será a última tentativa de chegar a conclusões mais concretas sobre o que derrubou o Airbus da Air France.

“O governo francês quer conhecer a fundo toda a verdade. É uma investigação difícil, não dispomos do avião, apenas de alguns destroços. Mas o governo fará uma nova tentativa de localizar as caixas pretas como uma última possibilidade de encontrá-las e trazer conclusões mais substantivas”, afirmou, em entrevista coletiva. Ele não deu detalhes técnicos da operação, que deve empregar submarinos franceses e limitou-se a informar que as buscas se darão numa área com profundidade de 4 mil metros. “Vamos lançar mão de todos os recursos técnicos e todos os interessados vão participar ativamente.”

Sob protesto de algumas famílias brasileiras que dizem estar recebendo tratamento diferenciado da Air France, o ministro e representantes da companhia inauguraram um memorial em homenagem à vítimas do voo 447, no Mirante do Parque Penhasco Dois Irmãos, no Leblon, na zona sul do Rio. A rua foi fechada por cerca de 10 seguranças, que permitiam a passagem apenas dos convidados e moradores do local. A imprensa e outras pessoas que queriam visitar o mirante foram impedidas de subir até o local.

Segundo a Air France, cerca de 500 amigos e familiares das vítimas participaram da cerimônia ecumênica, que foi celebrada em francês na maior parte do tempo. O monumento do arquiteto Ricardo Villar é uma peça translúcida com 228 andorinhas, que representam as vítimas do desastre.

“Não faz nenhum sentido essa homenagem acontecer no Rio se o acidente aconteceu próximo a Fernando de Noronha. Não fomos consultados sobre ela”, reclamou o diretor da Associação de Vítimas do vôo 447, Nelson Marinho. Ele perdeu o filho, o mecânico de plataforma, Nelson Marinho Filho, no acidente.

Marinho reclamou também que os parentes de vítimas brasileiras e alemãs vêm recebendo tratamento diferenciado dos franceses. “Pelo menos 15 famílias brasileiras de outros Estados tentaram confirmar lugar na cerimônia, mas foram informados (pela companhia aérea) que não tinha mais lugar”, afirmou.

Maarten Van Sluys, que perdeu a irmã, a jornalista Adriana Van Sluys, disse que muitas famílias brasileiras ainda não receberam o seguro e nem as bagagens identificadas. Também não foram convidadas para a inauguração do memorial às vítimas que será erguido em Paris, em maio. “Eles pagaram para os franceses virem fazer turismo no Rio para uma homenagem para a qual não fomos consultados. E até agora ninguém nos convidou para essa outra homenagem.”

Em nota, a Air France informou que a cerimônia organizada ontem teve a aprovação de 75% dos parentes e que, a pedido deles, o evento foi realizado “em caráter estritamente privado e não aberto ao público e à imprensa”.

“Mesmo a companhia e o escritório de investigação sendo franceses, as informações são transmitidas em tempo real simultaneamente a todas as famílias. Muitas vezes elas têm prioridade. Reafirmo que não há diferença de tratamento”, disse Joyandet sobre as queixas das famílias brasileiras. Ele informou que 50% dos pertences recolhidos no mar e levados para a França já foram identificados. Segundo o ministro, os familiares têm acesso a um banco de dados na internet e, mediante o reconhecimento, solicitam a remessa imediata dos objetos.

Acompanhado do embaixador francês no Brasil, Pierre-Jean Vandoorne, Joyandet disse que a homenagem aos mortos é uma forma de confortar as famílias diante das características da tragédia. O ministro disse que uma cerimônia similar será realizada em Paris em maio do ano que vem, no aniversário do acidente.

“Fazer o luto para essas famílias ainda é difícil porque temos poucas coisas em termos de informações. Não achamos o avião. Poucos corpos foram encontrados. É imprescindível que os governos estejam perto das famílias”, justificou, agradecendo a colaboração com o governo brasileiro e a prefeitura do Rio. “Na França há um sentimento de que o Rio ajudou muito as famílias e somos agradecidos.”

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