Na hora da eleição, base de Lula foi para oposição

Brasília – Nem mesmo se definiu o quadro do segundo turno das eleições municipais, e algumas coisas começam a ficar claras para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que trabalha com números preocupantes: a sua base de apoio no Congresso mostrou escassa fidelidade nas alianças e a oposição mostrou nas urnas que é boa de votos. O que assusta para 2006.

Primeiro exemplo: o maior dos partidos aliados do governo Lula, o PMDB, que tem dois ministérios, fez mais alianças nas capitais com o bloco PSDB-PFL do que com os petistas. São 14 alianças no primeiro e no segundo turnos com a oposição e apenas oito com os partidos que integram o bloco mais fiel ao governo. O PTB, que tem um ministério e cuja cúpula jantou com o presidente Lula e o ministro José Dirceu na última quinta-feira, fez alianças com o PSDB em 15 capitais e com o PT em somente oito.

Este é um indicativo preocupante que as costuras políticas que o PT fez para governar se restringe a votações no Congresso (mais especificamente na Câmara Federal), não são sólidas e no primeiro temporal político, podem virar pó. Ou seja, podem, sem o menor escrúpulo, engrossar as fileiras da oposição, que já está bem robustecida.

Segundo exemplo: nas eleições deste ano, os candidatos dos partidos de oposição ao governo federal – PSDB e PFL, somados aos do PP, alinhado ao PSDB em 22 estados – tiveram 33 milhões de votos. Isso é um número superior aos 31,9 milhões de votos obtidos por candidatos de partidos aliados ao governo Luiz Inácio Lula da Silva – PT-PL-PCdoB, mais o PTB, cuja direção decidiu-se por uma parceria estratégica com os petistas, e o PSB. Para se ter uma idéia da gravidade destes números, basta recordar que em 2002, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve, no primeiro turno, 39,4 milhões de votos e 52,7 milhões no segundo. A votação das eleições municipais mostra um potencial de votos para a oposição superior à votação obtida em 2002 por José Serra, que fez 19,7 milhões de votos no primeiro turno e equivalente aos 33,3 milhões de votos do segundo turno.

Apenas estes dois indicativos são suficientes para concluir uma coisa: a base partidária que apóia o governo petista terá que ser reconstruída para a campanha da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT vai enfrentar um quadro diferente daquele que encontrou em 2002, porque a oposição cresceu em votos.

Se Lula e o PT não reconstruírem a base aliada em termos mais sólidos, o presidente vai ter grande dificuldade para se reeleger, ainda que não se saiba a que enfrentar – o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, é hoje o mais forte nome no PSDB e praticamente se consolida caso o tucano José Serra vença a petista Marta Suplicy na cidade de São Paulo.

A realidade é que os aliados do PT se dispersaram nas eleições municipais, e em muitos estados apoiaram os candidatos do PSDB, que sai mais forte destas eleições para comandar a oposição. Nos próximos dois anos, o governo disputará com a oposição o apoio de partidos de sua base parlamentar, cujos interesses políticos regionais estão divididos entre os dois pólos que se formaram na política brasileira.

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